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E Ken Loach para aplaudir com Looking for Eric

O diretor celebra solidariedade em sua ode ao jogador Eric Cantona, francês que virou rei do Manchester

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Por Redação
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É um mistério por que o Brasil, que se autointitula país do futebol, não saiba como tratar do assunto. O filme mais famoso sobre futebol feito no País talvez seja Garrincha, Alegria do Povo, de Joaquim Pedro de Andrade, que no fundo talvez seja contra seu personagem, para desmistificar o esporte como alienação das massas. Nos últimos anos temos grandes filmes sobre futebol aqui em Cannes. Os documentários sobre Zidane e Maradona, o segundo realizado por Emir Kusturica, e agora a ficção de Ken Loach, Looking for Eric. Mais sobre Cannes no blog do Merten ?Eric? é Eric Cantona, o jogador francês que virou o rei do Manchester, idolatrado pela torcida inglesa. Como em Play It Again Sam, de Woody Allen, que virou no cinema Sonhos de Um Sedutor, de Herbert Ross, o espírito de Cantona assombra um de seus fãs, um carteiro que abandonou a mulher e vive agora uma existência miserável. Cantona aparece para o personagem de Steve Evets, que tem problemas com os filhos e, no fundo, gostaria de voltar para a ex. Steve, como fã, lembra grandes jogadas de Catona, os gols memoráveis,e, num momento, chega a dizer-lhe que, às vezes, ele até se esquece de que seu ídolo é um homem. Cantona, então, olha para a câmera diz que, não, ele não é um homem. É Cantona, o rei. Mas o lance de que o rei se lembra e que ele acha que resume sua arte é um passe, quando ele lança a bola para outro jogador, na esperança de que ele finalize, e ocorre o gol. A ?mensagem?, se é que se pode falar assim, é clara. Mais do que uma celebração do individualismo no mundo global, o velho Ken Loach, sem renegar sua vocação de esquerda, volta com uma defesa apaixonada da solidariedade e do grupo. Steve, no filme, é da classe trabalhadora e, graças aos amigos, abre seu caminho para o paraíso. Uma chuva de aplausos coroou a sessão de Looking for Eric. O filme nasceu como um projeto do próprio Cantona, que, além de ator, é produtor. Ele levou a ideia a Loach, que só topou fazer se conseguisse desenvolver um roteiro original, com seu colaborador habitual, Paul Laverty. Cantona diz que viver é assumir riscos. A declaração poderia ser de Loach. Ele também se arrisca. O filme é crítico e carinhoso em relação ao mito. Cantona fala por provérbios. A plateia ria, mas de felicidade. Uma fantasia com o pé no social. Se o festival terminasse ontem, haveria uma passeata até o Hotel Carlton para pedir à presidente do júri, Isabelle Huppert, que desse a Palma ao veterano mestre inglês. Chega de charlatanismo. Enough, assez!

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