E agora? Quem vai herdar a Osesp?

Anúncio de que o maestro John Neschling não renovará seu contrato em 2010 abre bolsa de apostas sobre seu sucessor

PUBLICIDADE

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio , Lauro Machado Coelho e João Marcos Coelho
Atualização:

A gestão do maestro John Neschling à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo já tem data para terminar. Em depoimento dado à coluna Direto da Fonte no sábado, o maestro afirmou que , ''cansado da boataria'' sobre sua gestão na Osesp e da maneira como está ''sendo exposto'', não tem intenção de estender seu mandato e deixa o grupo assim que o contrato terminar, em 2010. Com o anúncio, abre-se a bolsa de apostas sobre seu sucessor, o maestro que, do pódio da Sala São Paulo, vai comandar a maior orquestra do País, com um orçamento anual que gira em torno de R$ 57 milhões, dividido entre o governo do Estado e a iniciativa privada. Neschling assumiu a Osesp no final dos anos 90, convidado pelo governador Mário Covas. Aceitou o posto de diretor artístico e regente titular com duas condições: ter carta branca para reestruturar os quadros da orquestra e conseguir para ela uma nova sede. De lá para cá, o projeto Osesp se tornou um dos maiores fenômenos da vida cultural do País. Em poucos anos, a orquestra conseguiu montar uma programação de excelente qualidade, com dezenas de concertos regulares ao ano e uma temporada de assinaturas que hoje conta com 11.800 assinantes contra 200 pessoas por concerto, média de 10 anos atrás. O projeto Osesp, no entanto, ficou marcado também pelas polêmicas, da demissão dos representantes dos músicos em 2001 até suspeitas de irregularidade no concurso de piano promovido há dois anos, passando pelo valor do salário de Neschling, a briga com seu ex-regente adjunto Roberto Minczuk e declarações polêmicas a respeito não só de outras orquestras do País como contra o próprio governador - uma declaração que foi colocada no YouTube. Não é de hoje que se fala na sucessão de Neschling. Os boatos sobre sua substituição surgiram durante a gestão de Geraldo Alckmin, quando circulou a informação de que a secretária de Estado da Cultura Cláudia Costin havia recomendado ao governador a demissão do maestro por conta de seu salário, considerado alto. Desde então, o assunto volta sempre à baila, normalmente provocando reação contrária de parcela do público e da classe artística. No ano passado, por exemplo, declarações de fontes ligadas ao governador José Serra falavam no desejo de encontrar imediatamente um novo maestro para a orquestra - e a presença de Serra em concertos do Festival de Campos do Jordão, dirigido por Minczuk, parecia confirmar o desagravo. Há alguns meses, publicou-se na imprensa paulista a informação de que governador estudava a possibilidade de buscar no exterior um novo diretor. Finalmente, no mês passado, novo boato, agora de que o argentino Daniel Barenboim havia sido convidado para o posto. Em visita ao Brasil com a Staatskapelle Berlim, o maestro negou que tivesse recebido qualquer convite. Procurado pelo Estado, o maestro John Neschling não respondeu ao pedido de entrevista. A Fundação Osesp também não se pronunciou sobre a questão. O processo da escolha da sucessão de Neschling já deve ter começado, envolvendo o conselho da fundação e o governo. Não se sabe qual exatamente será o papel dos músicos na escolha, mas vale lembrar que em algumas das principais orquestras mundo afora, como as filarmônicas de Viena e Berlim, eles propõem uma lista tríplice com os maestros com os quais gostariam de trabalhar. Baseando-se na experiência concreta de tê-los visto trabalhando com a Osesp e de ter podido, assim, avaliar a resposta da orquestra a seu comando, os críticos do Estado prepararam uma lista de possíveis candidatos ao cargo. O novo maestro pode até não estar entre os escolhidos. Mas vale a pena abrir a bolsa de apostas dos possíveis candidatos ao cargo. Quem Vai Para o Pódio? ROBERTO MINCZUK: O maestro sempre esteve no topo da lista de possíveis sucessores de Neschling. Foi seu assistente desde o início do projeto de reestruturação da orquestra; em 2005, passou a regente convidado principal, até que resolveu abandonar de vez o grupo. Ele já conhece a orquestra e seu modo de trabalho - politicamente, seu nome acalmaria àqueles que têm medo, com a saída de Neschling, que o projeto seja desconfigurado, afinal, foi um de seus arquitetos. Minczuk, no entanto, já tem contratos com Orquestra Sinfônica Brasileira,o Teatro Municipal do Rio e Filarmônica de Calgary (Canadá). IRA LEVIN: O nome do maestro norte-americano ganha crédito por conta do desejo de se escolher um regente estrangeiro para ocupar o posto, além dos bons resultados conseguidos nas duas ocasiões em que comandou a Osesp como regente -convidado, interpretando trechos de A Valquíria, de Richard Wagner, e, há duas semanas, obras de Gershwin, Debussy e Roussel. Levin não é estranho para o mundo musical brasileiro, está no País desde 2003, já dirigiu com sucesso o Teatro Municipal de São Paulo e atualmente está à frente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, em Brasília. FRANK SHIPWAY: O maestro britânico regeu a Osesp em interessantes concertos com obras de Wagner e The Dream of Gerontius, de Edward Elgar. Interagiu bem com os músicos do grupo, o que ficou evidente pelo resultado obtido, elogiado tanto pela crítica quanto pelo público. Shipway foi assistente de Lorin Maazel na Ópera de Berlim nos anos 70 e suas credenciais incluem ainda apresentações com a Philarmonia Orchestra, as filarmônicas de Londres, Estocolmo e Moscou, além de aparições na Ópera Nacional Inglesa e no Festival de Glyndebourne. YAN-PASCAL TORTELIER: Como Shipway, o maestro francês demonstrou à frente da Osesp, com quem regeu dois concertos dedicados a autores franceses (Berlioz, Saint-Saëns, Ravel, César Franck), grande refinamento e senso de estilo. Na medida em que é possível julgar pelas gravações que documentam o seu trabalho (assim como o de Shipway), Tortelier possui repertório eclético e pode corresponder às necessidades de uma orquestra que se encontra em fase de desenvolvimento como a Osesp. É principal regente convidado da Sinfônica de Pittsburgh. RONALD ZOLLMAN: Em seu favor, o maestro belga tem a vasta experiência em um amplo repertório, acumulada durante o trabalho com importantes grupos de orientação diversa, como o Ensemble InterContemporain de Paris e a Orquestra da Suisse Romande. Isso pode ajudar a manter a diversidade do repertório, que tem sido a marca das temporadas preparadas por John Neschling. Zollman já esteve diversas vezes à frente da Osesp, regendo obras de Alfredo Casella, Igor Stravinsky, Gustav Holst e as sinfonias de Johannes Brahms. OSMO VANSKA: O maestro finlandês dirige a Sinfônica de Minnesota, nos Estados Unidos. Lá, transformou a orquestra em um fenômeno de público, mudando sua relação com vida cultural da cidade e atraindo patrocinadores, o que conta a seu favor em momento que a Osesp ainda se consolida institucionalmente. Seu ciclo das sinfonias de Beethoven, lançado pelo selo BIS, impressionou não apenas pela qualidade técnica como pelo frescor na leitura das obras, mesma sensação que provocou sua interpretação da Sinfonia nº 3 com a Osesp em 2006.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.