E a história de O Homem Que Virou Suco continua atual

João Batista de Andrade fala de seu filme famoso, que volta em versão restaurada, 26 anos depois de vencer em Moscou

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Estava escrito que O Homem Que Virou Suco seria um filme de muitas vidas. João Batista de Andrade lembra-se da estréia, em 1981. Era o auge da pornochanchada e o filme estreou em duas salas - no antigo Olido e no Belas Artes. O público chegava ao Olido, olhava o cartaz, ficava namorando O Homem, mas não entrava. O fracasso foi inevitável. Mesmo assim, O Homem Que Virou Suco foi convidado a participar do Festival de Moscou. Ganhou a Medalha de Ouro do evento com que os soviéticos, no tempo em que havia URSS, tentavam fazer frente ao Oscar e a Cannes. Relançado, O Homem foi (re)descoberto pelo público e virou um sucesso.   Veja trailer do filme O Homem Que Virou Suco Não só de público - a crítica também cumulou João Batista de Andrade de elogios. Agora, 26 anos depois, O Homem volta aos cinemas, numa versão restaurada. Começa uma nova (a segunda?) vida. Filmado em 16 mm, O Homem foi lançado em 35 mm, mas havia um forte circuito alternativo que reclamava cópias em 16. Foram tantas para que o filme passasse em sindicatos, escolas, associações que o negativo, como conta João Batista, ''''ficou detonado''''. Graças aos esforços do Centro de Pesquisadores do Rio - leia-se Carlos e Myrna Brandão -, com apoio da Petrobrás, o filme foi restaurado e lançado no Festival do Rio do ano passado. Quase u m ano depois, (re)estréia em são Paulo. A restauração só foi possível porque foram descobertas duas cópias em 35 mm que estavam em bom estado. Trabalhando com elas e o negativo, O Homem foi ganhando nova roupagem. É o mesmo filme, mas com melhores condições de imagem e som. O mesmo País, também? O Homem Que Virou Suco conta a história desse nordestino que, em São Paulo, é confundido com um fugitivo. Para a polícia, os dois são ''''Silva'''' e isso é suficiente para que o homem errado - um conceito que Alfred Hitchcock desenvolveu em obras memoráveis de suspense - conheça o inferno na cidade grande. João Batista de Andrade chegou a pensar em fazer o filme com Tom Zé, mas aí descobriu José Dumont. Por melhor que fosse Tom Zé, não seria a mesma coisa. O outro Zé é excepcional. João Batista mistura experimentação e narrativa popular, documentário e ficção. Sua estética é política. Ele filmou no Viaduto do Chá, na periferia de São Paulo. O ano era 1979. O Brasil estava mudando. Pressionada, a ditadura recuava. João já estava escaldado de filmar em condições adversas. Ele sabe que o Brasil mudou, mas nem tanto. A história de O Homem Que Virou Suco continua atual. Serviço O Homem Que Virou Suco (Brasil/1981, 95 min.) - Drama. Dir. João Batista de Andrade. 16 anos. Cotação: Bom

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.