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Duetos e regravações em CD

Clássicos do repertório de Carmen reunidos em álbum duplo

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

O legado de Carmen Miranda é um fenômeno muito interessante, que resiste ao tempo. Além da influência evidente sobre outros intérpretes de várias gerações, a imagem associada à alegria sobrevive na consistência do repertório recheado de clássicos do cancioneiro nacional. Carmen teve a sorte de conviver e a capacidade de valorizar compositores como Dorival Caymmi, Assis Valente, Ary Barroso, Synval Silva, Joubert de Carvalho, João de Barro e Alberto Ribeiro, entre tantos outros do primeiro escalão. Na esteira do centenário de seu nascimento, a Sony/BMG lança um CD duplo, Duetos e Outras Carmens, reunindo num deles antológicos encontros da cantora com Mário Reis, Lamartine Babo, Silvio Caldase Francisco Alves, entre outros, mas falta Caymmi. O segundo é de regravações de clássicos de seu repertório por Caetano Veloso, João Bosco e Daniela Mercury, Maria Bethânia e Chico Buarque, Elba Ramalho, etc. Nem todas boas. A EMI aproveita a ocasião para recolocar nas lojas os quatro CDs da série Ruy Castro Apresenta. Até o fim do ano a gravadora relança a ótima (e esgotada) caixa com cinco CDs, reunindo 129 fonogramas, de 1935 a 1940. O samba Alô, Alô (André Filho) com Mário Reis, e a marchinha Moleque Indigesto (de e com Lamartine) iniciam a divertida e seletiva sessão de duetos raros de Carmen. Não importa que os chiados do tempo não sejam compatíveis com a potência dos atuais sistemas 5.1. Ouvir as gravações originais de Carmen é sempre um prazer de (re)descobertas. Já Outras Carmens abre e fecha com duas faixas inéditas e equivocadas. A primeira é Camisa Listrada (Assis), em interpretação caída da superestimada Elza Soares. A última é uma versão tecno de um pot-pourri que reúne Maria Alcina e o DJ Zé Pedro. Alcina também divide Cozinheira Granfina (Sá Roriz) com Daltony, mas suas melhores gravações do repertório de Carmen (como Alô Alô) estão em seus discos de outra gravadora. O mesmo ocorre com Gal Costa, que aqui aparece em Fon-Fon, de João de Barro e Alberto Ribeiro. Seu registro de Balancê, da mesma dupla, é bem superior. Pelo mesmo motivo, Ney Matogrosso e Eduardo Dussek, fundamentais revitalizadores do universo carmeniano, ficaram fora. As melhores são Cachorro Vira-Lata (A.Ribeiro), com Baby do Brasil, E o Mundo Não se Acabou (Assis), com Adriana Calcanhotto, Eu Dei (Ary), com Marília Barbosa, e O Que É Que a Baiana Tem? (Caymmi), com Rita Lee, que melhor absorvem a essência do original.

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