Dramaturgos falam sobre o autor

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Por Redação
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MARIA ADELAIDE AMARAL "Tennessee construiu uma obra densa, delicada e acentuadamente biográfica. Ainda que não seja necessário conhecer sua vida para compreender seu teatro, ela ilumina suas tramas e personagens. A decadência de sua família materna, que pertencia à aristocracia do Sul dos Estados Unidos, e a rigidez e intolerância do seu pai Cornelius Williams estão presentes desde À Margem da Vida. Ninguém criou mulheres tão frágeis e abissais, ninguém revelou a nostalgia e o desencanto sob a pátina da vitalidade e da altivez, ninguém explorou a poética tessitura da alma feminina como ele. Tennessee é Laura, Amanda, Blanche, Alma, Maggie e a Princesa de Kosmonopolis. Ele é todas as suas personagens, inclusive Rosa Tatuada. Homossexual, sua vida foi marcada pelo preconceito, marginalidade e violência: o primeiro algoz foi seu próprio pai. Em tempo de feroz repressão sexual (1958) ousou colocar em cena a questão do homossexualismo (De Repente, no Último Verão). Autor de uma obra tão pessoal quanto universal, teve o privilégio de sabê-la montada com sucesso pelo mundo e de vê-la bem adaptada para o cinema. Ainda por cima teve bons amigos como Carson MacCullers a quem ajudou a transpor para o teatro Testemunha de Casamento." SÉRGIO ROVERI "A primeira peça de um autor internacional que li foi Um Bonde Chamado Desejo, no fim da adolescência. Aquela história da rivalidade entre Stanley Kowalski e Blanche Dubois, espremida naquele apartamento minúsculo de Nova Orleans, me marcou muito. Mais do que a história, entretanto, eu fiquei impressionado com a construção da personagem de Blanche - que aparentava tanta fragilidade para esconder um passado de certo modo comprometedor. Fiquei um tempo pensando como era possível construir um personagem tão complexo e com tantas possibilidades de leitura. Depois vi que Tennessee Williams repetira a proeza em peças como À Margem da Vida, A Noite do Iguana e Fala Comigo Baixo como a Chuva. De todos os grandes autores americanos do século 20, entre eles Arthur Miller, Eugene O?Neill e Edward Albee, acho que Tennessee Williams foi o mais hábil em retratar personagens comuns e ao mesmo tempo absurdamente atormentados. Foi o mais implacável ao descrever a degradação familiar de maneira a nos aproximar de seus personagens como se eles fossem nossos vizinhos de corredor. Aprecio demais sua dramaturgia porque ela não é feita de heróis e de ninguém que esteja acima do senso comum. Sei que a estrutura do drama tal como Tennessee Williams a construía está sendo aos poucos abandonada pelos autores mais jovens, mas há algo em sua radiografia do ser humano, em suas minúcias, que o tempo não será capaz de apagar." MÁRIO VIANA "Tennessee Williams faz a gente perder a vergonha de ser melodramático. Ele pode até não atingir aquilo que os estudiosos chamam de ?grandeza da tragédia?, mas seus personagens sabem como emocionar o público até hoje, talvez por que sejam todos figuras que perderam a batalha - não somente contra o sistema, mas contra si mesmas e seus próprios desejos sufocados. Suas peças também têm uma característica interessante, provavelmente inovadora, quando foram escritas: elas dialogavam bem com o cinema, transitavam bem do palco para a tela. Um Bonde Chamado Desejo, Gata em Teto de Zinco Quente e De Repente, no Último Verão viraram grandes filmes, mantendo a história original, provando que as ideias e os diálogos de Tennessee eram ?modernos?." SAMIR YAZBEK "Era de sua vida íntima e sofrida que Tennessee Williams tirava seus temas. A frase ?Sempre dependi da delicadeza de estranhos?, de Blanche Dubois, personagem de Um Bonde Chamado Desejo, sintetiza bem o espírito de sua obra. Em um artigo que Tennessee escreveu, A Catástrofe do Sucesso, há uma reflexão inspiradora: ?A segurança é uma espécie de morte, creio, e pode atingi-lo numa enxurrada de cheques de direitos autorais, junto a uma piscina em forma de rim em Beverly Hills ou em qualquer outro lugar que esteja divorciado das condições que tornaram você um artista, se é isso que você é ou foi ou quis ser."

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