PUBLICIDADE

Dose tripla de bom rock instrumental

Pata de Elefante, Gasolines e Macaco Bong se apresentam hoje em São Paulo

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Seja em (mau) português ou em (pior) inglês, o ponto mais fraco das bandas de rock brasileiro dos anos 90 para cá são as letras. Sem um Cazuza, um Renato Russo ou um Antonio Cícero equivalentes, essa geração que pouco ou nada lê (livros, obviamente, lixo virtual não conta), consequentemente, não raciocina e não tem o que dizer. A indigência poética não é exclusiva de um gênero musical específico, mas no caso do rock uma boa alternativa (não a solução) tem sido o rock instrumental, que já se configura como forte tendência desta década, paralelamente ao folk derivativo. Vai daí que três bandas que se apresentam hoje na cidade - a porto-alegrense Pata de Elefante, a cuiabana Macaco Bong e a paulistana Gasolines - são exemplares de como se expressar com inteligência, garra e bom humor, sem palavras. E uma cena nacional vem se configurando, com bandas instrumentais bacanas, além das três em questão, como Retrofoguetes (Bahia), Hurtmold, Chimpanzé Club Trio e The Dead Rocks (São Paulo), Burro Morto (Paraíba), Fóssil (Ceará), La Pupuña (Pará), cada uma no seu estilo. Guitarra, baixo e bateria são os instrumentos básicos que a maioria dessas bandas independentes tem à mão, para mostrar essa força expressiva com boa música. Os elaborados álbuns da Pata, do Macaco e do Gasolines lançados em 2008 são a base dos shows de hoje. Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha (da Pata) e Artista Igual Pedreiro (do Macaco) saíram pela Monstro Records; Pura Veneta (Gasolines), pela Baratos Afins. No caso do Macaco, que também é convidada da Pata no domingo, no Itaú Cultural, a guitarra é a voz da banda. "Então, tem muita melodia", diz o baixista Ney Hugo, que forma o trio com Bruno Kaypy (guitarra e violão) e Ynaiã Benthroldo (bateria). "Muitas das melodias que Bruno compõe é em cima de referências de instrumentos de sopro, como o sax de Charlie Parker", observa Ney. Apesar das faixas longas, o que livra a banda de certas convenções da música instrumental é o fato de evitar "aquelas passagens longas de virtuosismo". "A pegada é mesmo do rock, tocando bastante pesado, com a guitarra muito na frente." Formada por Gustavo Telles (bateria), Gabriel Guedes e Daniel Mossmann (guitarras, baixos e violões), a Pata de Elefante é se destaca na cena do rock instrumental. Com o ótimo segundo CD, melodioso, dançante, bem-humorado, a banda se firma como a mais cativante do gênero. "Nossas influências são de bandas de rock com vocal dos anos 60 e 70 e compositores de trilhas de filmes, como Ennio Morricone, Henry Mancini, mas principalmente de música pop", diz Gustavo. "Com isso, a gente acaba fazendo ?canções? instrumentais, acessíveis às pessoas." Gustavo acredita que, em torno da música instrumental - "por deixar a interpretação em aberto e propiciar ao ouvinte uma certa viagem mais livre" -, talvez esteja se formando um "movimento oportuno" para compensar "a falta de qualidade e criatividade quanto às letras". Ale Kanashiro, guitarrista e compositor do Gasolines, concorda com ele nesse ponto e no fato de que com ou sem letra, o que não dá para suportar é música malfeita. "Na real, o mais importante é a melodia. A letra pode ser até ruim, mas se a música for boa, as pessoas gostam, a comunicação é mais fácil, direta", diz Ale. A banda existe desde 1993 e seus integrantes - Fabio Barbosa (bateria), Juliano Camargo (baixo) e Ricardo Granata (percussão e guitarra), além de Ale - têm outras atividades e tocam por diletantismo. A base de seu som é a surf music, mas surgem outras referências. O CD Pura Veneta tem também música tradicional turca (Uska Dara), homenagem a Bola Sete e uma adaptação de Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Ou seja, o que der na "veneta", vem pra se divertir. Serviço Pata de Elefante e Macaco Bong. Inferno Club (500 lug.). Rua Augusta, 501, tel. 3120-4140. Hoje, 23 h. R$ 10 (lista@infernoclub.com.br) e R$ 15 (porta). Itaú Cultual (247 lug.). Av. Paulista, 149, 2168-1777. Dom., 20 h. Grátis (ingressos distribuídos com meia hora de antecedência) Gasolines. Choperia do Sesc Pompeia (800 lug.). Rua Clélia, 93, 3871-7700. Hoje, 21 h. R$ 4 a R$ 16

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.