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Dona Zica, ''não a da Mangueira'', consegue outra vez

A senhora de 77 anos descolou convite para ver João Gilberto e, agora, a dupla

Por Livia Deodato
Atualização:

E lá vem ela. Vestida num longuete mostarda, com algumas delicadas pedrarias, um sapato preto sem salto, bem confortável, e uma bolsa de palha pendurada no ombro esquerdo, com um terço branco e uma fitinha de Nossa Senhora Aparecida amarrados na alça. Todo o pessoal da organização do show do rei com Caetano a reconhece: é Maria Antonieta dos Anjos, de 77 anos, mas pode chamá-la de Dona Zica. "Não a da Mangueira, mas a do Corinthians!", aposto que ela exclama para cada repórter mais atento que se aproxima para entrevistá-la. Para conseguir entrar, segunda à noite, no show de Roberto e Caetano, Dona Zica repetiu o mesmo esquema armado para a apresentação de João Gilberto, há cerca de dez dias. O que isso significa? Não ter esquema nenhum. Chegar até o Auditório Ibirapuera meia hora antes do horário previsto para o início do evento, sem ingresso e sem saber como voltaria para casa, em Osasco, caso o show acabasse perto da meia-noite. "Ah, mas eu sempre tenho uns anjos que me ajudam. No show do João Gilberto, um casal me deu carona no táxi deles até o Largo da Batata, onde eu consegui pegar o último ônibus, que já estava de saída. Corri e deu tudo certo, graças a Deus", conta com um sorriso escancarado no rosto, feliz da vida por ter cumprido a primeira parte de sua missão. No show de João, Dona Zica ganhou um convite da produção do evento aos 45 minutos do segundo tempo (o que equivale à 1h30 depois do horário previsto para J.G. dar o ar de sua graça no Auditório). Saiu mais cedo do show, por coincidência lado a lado com o casal, que ficou pelo Jardim Europa e deixou quitado o táxi até o ponto de ônibus de Dona Zica. Mas ontem, ao que tudo parecia indicar, ela não teria a mesma sorte. "Não tem um ingressinho sobrando, não? Um só, veja aí", tentava convencer os assessores de imprensa e de convidados. "Mas então, me ponha no primeiro lugar da lista de espera. Sobrando um é pra mim, tá bom?" E, enquanto esperava, não se fez de rogada. Passeou pelo hall, papeou com desconhecidos e tietou alguns famosos. "Olha o Edu Guedes! Dá licença, dá. Ah, mas ele é mesmo muito lindinho." A ex-tecelã hoje aposentada, campeã de natação da terceira idade do Sesc e fanática pelo Timão, cujos jogos da série B vai sempre assistir ao vivo, contou com a ajuda de Danilo Gentili, repórter do programa Custe o Que Custar (CQC), para ver e ouvir seu ídolo junto a Caetano. Juntos, eles tentaram burlar a segurança com apenas um ingresso, em duas tentativas. Não deu certo. Minutos antes das 22 horas, Gentili cedeu sua cadeira na fileira D para Dona Zica. Saiu maravilhada do show, sem no entanto perder sua criticidade. "Ah, mas o Roberto não cantou nenhuma música dele, que eu gosto tanto." Foi posar para a foto que ilustra essa matéria, ao fim do show, e o relógio alcançou a meia-noite. O motorista da reportagem do Estado, José Marcos Maria, foi o anjo daquela noite.

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