Documentário avalia o legado político de Petri

Morto em 1982, ele antecipou a alienação social como um mal contemporâneo

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Por Luiz Zanin Oricchio
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Há um ressurgimento do cinema italiano - foi, aliás, o que disse Wim Wenders em Porto Alegre, na coletiva que precedeu sua conferência no seminário Fronteiras do Pensamento, segunda-feira à noite. O cinema italiano, que já foi um dos maiores do mundo - neo-realismo, Roberto Rossellini, Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Pier Paolo Pasolini, etc. -, parecia ter desaparecido do mapa com os mestres, mas há uma nova geração, representada por autores como Paolo Sorrentino, Matteo Garrone e Daniele Luchetti, de quem você pode assistir nos cinemas a Meu Irmão É Filho Único. Por volta de 1970, havia no cinema italiano uma tendência de fazer filmes políticos. Após a ressaca que se seguiu a Maio de 68 - nos EUA, o sonho hippie de paz e amor também fora enterrado pela violência do concerto de Altamont -, houve um recuo do ímpeto revolucionário. Mesmo em países que não viviam sob ditaduras, ocorreu um fortalecimento do aparelho repressivo. Nesse quadro, surgiu um filme como Investigação Sobre Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, de Elio Petri - vencedor do Oscar de 1970 -, no qual um policial (Gian-Maria Volontè) comete um crime somente para mostrar que sua posição o manterá impune. Elio Petri morreu em 1982 e o seu legado parecia esquecido na Itália de Silvio Berlusconi. Um documentário - Elio Petri, Notas Sobre Um Cineasta, de Federico Bacci e Nicola Guarnieri - retraça a carreira e a importância desse autor visceral. É a atração de hoje do Eurochannel, às 22 horas. Amigos, colaboradores e críticos ajudam a elucidar quem foi esse homem tão atraído por personagens neuróticos, que utilizou para denunciar a alienação política e social. Petri não viveu para assistir à consolidação do consumismo, no mundo globalizado. Mas ele já apontava para isso por meio de anti-heróis sofistas, como os de O Assassino e Os Dias São Numerados, que culminam no operário de A Classe Operária Vai ao Paraíso, que dividiu com O Caso Mattei, de Francesco Rosi, a Palma de Ouro de 1972. Serviço Elio Petri, Notas Sobre Um Cineasta. Direção de Federico Bacci e Nicola Guarnieri. Eurochannel. Hoje, às 22 horas

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