Diretor escolhe a jovem Doria como personagem principal

Em Puccini e la Fanciulla, cineasta fala das razões que a levaram ao suicídio, após ser acusada injustamente de adultério

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
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Puccini e la Fanciulla, de Paolo Benvenuti e Paola Baroni, tem sido pivô de um caso rumoroso na Itália. O caso diz respeito ao misterioso suicídio de Doria, garota acusada de manter um caso com Puccini, muito mais velho do que ela, e casado. Quando examinaram o cadáver de Doria, os médicos comprovaram que a moça havia morrido virgem. Por que se teria matado? Em seu filme, Benvenuti desenvolve a tese de que Doria se suicidou devido a intrigas da enteada de Puccini que, surpreendida pela menina na cama com o amante, passou a persegui-la. E a intrigá-la junto à esposa de Puccini, Elvira. Na verdade, seria Giulia Manfredi, prima de Doria, a verdadeira amante do compositor. E mais: tivera com ele um filho, Antonio, nascido em 1923 e já falecido. Benvenuti não tirou essas idéias do nada. Elas se baseiam na correspondência entre Puccini e Giulia, descoberta no fundo de um baú cem anos depois que tudo havia se passado às margens plácidas de um lago na Toscana. Enquanto isso, Simonetta Puccini, neta do compositor, tenta a interdição do filme. O caso já conheceu voltas e lances teatrais, e periga terminar com a exumação do corpo de Antonio para que se realize uma prova de DNA. Benvenuti defende-se dizendo que o longa se baseia em pesquisa rigorosa. Que as cartas estão lá e seu conteúdo não pode ser negado por biógrafos do compositor. A história que despertou a curiosidade de Benvenuti foi mesmo a de Doria Manfredi. A garota tinha apenas 21 anos quando tomou algumas pastilhas de um veneno rústico. Fez um último pedido: queria ter o corpo examinado após a morte. Daí que a descobriram virgem e inocente das acusações de Fosca e Elvira. Mas nunca se pensara em Giulia Manfredi, sua prima. Enquanto Doria trabalhava na casa de Puccini, como criada, Giulia oficiava como garçonete na concorrida taverna chamada Torre del Lago. Era linda, desenvolta e sedutora. Puccini costumava ir lá para descansar do trabalho. Bebia um copo, ouvia a moça cantar, jogava baralho, fumava um cigarro. Ao que parece, não se limitava a essas atividades sociais. O caso entre os dois sempre foi tratado como segredo pelos moradores da região e Benvenuti não conseguiu ouvir qualquer depoimento convincente nos sete anos em que entrevistou as pessoas do local. Até que as 20 cartinhas foram encontradas num depósito da velha cantina. Sabe-se hoje que Giulia Manfredi seria a modelo real da personagem da ópera de Puccini La Fanciulla del West. Como Minnie, a protagonista, dona de uma taverna chamada The Polka, Giulia também era exuberante e voluntariosa. Ao investigar o caso, Benvenuti foi ligando os pontos... e as cartas fizeram o resto. Deram o clique final na solução do enigma, pois aquela mocinha inocente e tímida de fato não tinha qualquer razão para se matar. Benvenuti filma na região toscana onde os fatos se passaram. O filme é uma pintura de tão bonito, tem uma luz viva, porém discreta, inspirada nas telas dos artistas toscanos. Um músico, o compositor Riccardo Moretti, interpreta Puccini. Federica Chezzi faz Giulia, e Tânia Squillario interpreta Doria. O filme não contém qualquer diálogo. Trechos de cartas (mas não da correspondência comprometedora) são lidos em off. Além disso, é todo montado sobre os sons locais e sua trilha sonora é composta de cantos populares toscanos e dos temas da Fanciulla del West retrabalhados no piano por Carlo Carignani.

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