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Desníveis marcam concerto do grupo lituano de Vilnius

Orquestra teve problemas de afinação e entonação, mas melhorou na 2.ª parte

Por Crítica Lauro Machado Coelho
Atualização:

As cordas da Orquestra do Festival de Vilnius formam um conjunto desigual. Possuem uma sonoridade com bastante presença, mas, além de eventuais problemas de afinação e entonação, os violinos tendem a ser um tanto estridentes; as violas são muito satisfatórias (é muito bom o chefe de naipe, Arünas Statkus); e as cordas graves são apenas corretas. Também a apresentação feita quarta-feira, no auditório da Cultura Artística, sob a regência do compositor Krzystof Penderecki, foi irregular, mais bem-sucedida na segunda parte do que na primeira. O Andante do Divertimento K. 137, de Mozart, o mais original da série K. 136-138, recebeu tratamento bastante burocrático e impessoal. A execução cresceu progressivamente, tendo o Allegro assai uma execução que valorizou mais a sua vivacidade e riqueza de invenção melódica e rítmica. O restante da primeira parte foi dedicada a composições. A Chaconne in Memoriam Giovanni Paolo II é uma peça de feitura tradicional, com motivo de sabor popular, vagamente reminiscente das melodias de Astor Piazzolla; mas se encerra com sonoridades rarefeitas aparentadas com a escrita da fase vanguardista do compositor. Quanto à Sinfonietta para Cordas, é peça experimental que, no primeiro movimento, opõe maciços acordes do tutti orquestral a cadências dos instrumentos solistas, destacando-se aqui, em especial, a participação do primeiro viola; e, no segundo, trabalhando com segmentos de ritmo motórico que remetem a alguns efeitos da música de câmara de Shostakóvitch, por exemplo. Obra curiosa, sem dúvida, bem construída, que os músicos lituanos executaram sem regente, mas cujo interesse, muito provavelmente, não resiste a audições repetidas. A versão orquestral dos Souvenirs de Florence, o belo sexteto de Tchaikóvski, percorrido pela exuberância coreográfica do grande autor de balés, e de um caráter essencialmente russo, sobretudo na vivacidade rítmica dos dois últimos movimentos, ocupou a segunda parte do programa e, de certa forma, compensou pelos desníveis da primeira. Valeu a pena, sobretudo, a elegância do Adagio cantabile e con moto: a cantilena de serenata do violino, com pizzicato das violas; o duo nostálgico do violino com o violoncelo. A essa boa interpretação do sexteto somou-se, como extra, a leitura bastante correta do Larghetto da Serenata para cordas op. 22 de Dvorák, que havia feito parte do programa do dia anterior.

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