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Desenhos de Babar, de pai para filho

Mostra em NY reúne originais dos primeiros livros sobre o elefantinho, criados por Jean e Laurent de Brunhoff, em 1931 e 1946

Por Tonica Chagas
Atualização:

Em 2004, originais de Babar, o elefante que há quase 80 anos vem divertindo crianças de todos os continentes em livros, séries de TV e filmes, passaram a compartilhar a companhia de Jane Austen, Honoré de Balzac, Charles Dickens, James Joyce e outros nomes da literatura mundial que formam a coleção de manuscritos literários da Morgan Library & Museum, em Nova York. Agora, coincidindo com a publicação de Babar?s USA, o 44º livro da série iniciada em 1931, eles estão sendo exibidos em público na Morgan pela primeira vez em Drawing Babar: Early Drafts and Watercolors. A exposição cativa visitantes de todas as idades, que têm as histórias do paquiderme francês como lembrança de bons momentos da infância. Drawing Babar exibe cerca de 170 originais de dois livros marcantes do personagem, os desenhos e manuscritos de Histoire de Babar, le Petit Éléphant e Babar et ce Coquin d?Arthur. O primeiro foi produzido por Jean de Brunhoff em 1931, em Paris. Um pintor que nunca tinha ilustrado ou escrito alguma coisa para crianças, ele criou o livro infantil a partir de uma historinha inventada por Cécile, sua mulher, para distrair os filhos. O outro foi o primeiro criado por Laurent de Brunhoff, o mais velho dos três filhos de Jean, em 1946, quase dez anos depois da morte do pai. Nos desenhos a lápis feitos por Jean, exibidos ao lado de suas aquarelas finais para as páginas correspondentes, vê-se que ele acrescentou mais personagens à história inventada por Cécile e escolheu o nome para o protagonista, que antes era chamado apenas de bebê elefante. Nos primeiros esboços, Jean abria a história mostrando a morte da mãe do elefantinho. A versão publicada, porém, começa com a imagem tranqüila da mãe de Babar balançando o filho numa rede e apenas conta que ela foi morta por um caçador. Com vários esboços de desenhos e textos, Jean criou uma maquete de livro ilustrado, com capa e tudo. O protótipo para a primeira história de Babar foi digitalizado e pode ser visto tanto na exposição, que fica em cartaz até 4 de janeiro, como no site da Morgan Library (www.themorgan.org). De volta aos esquetes, Jean acrescentou várias cenas e fez mudanças para o começo e o fim do livro, eliminou linguagem que considerou supérflua, estendeu algumas cenas em páginas duplas e escolheu as cores finais para as ilustrações. Por fim, desenhou as ilustrações finais em tinta preta e aquarela, e copiou a história numa forma que imitava o que os filhos faziam na escola, recortando as ilustrações e textos e colando-os em páginas maiores. Foi a partir desse modelo que o livro Histoire de Babar foi impresso, em 1931. Jean tinha um cunhado e um irmão na direção de revistas de moda, o que ajudou a transformar a historinha em publicação. O primeiro esquete para a página de título mostra Jean e Cecile de Brunhoff como autores. Cecile, no entanto, preferiu não ser reconhecida publicamente pelo conceito inicial da história e seu marido ficou com o crédito do livro publicado. A primeira edição não diz nada sobre uma possível seqüência, mas esboços exibidos em Drawing Babar e a última página da maquete que Jean fez para Histoire de Babar mostram que ele estava planejando escrever outra história antes do primeiro livro ir para a impressora. Jean morreu de tuberculose, aos 37 anos, depois de ter publicado mais seis livros com histórias de Babar. Depois da Segunda Guerra Mundial, então com 21 anos, Laurent retomou a história que ouviu quando criança e os traços que já fazia quando adolescente. Laurent mora nos Estados Unidos desde 1985 e, como o pai, ele também é pintor mas, antes de Babar et Ce Coquin d?Arthur, não se considerava um contador de histórias. "Sempre me diverti desenhando elefantes, desenhando o Babar, e a idéia veio de repente, quando eu estava me preparando para ser um pintor abstrato", contou ele na abertura da exposição. "Pensei comigo mesmo: ?Babar é meu amigo e quero que a vida dele continue.?" Para o seu primeiro livro, Laurent escolheu como protagonista Arthur, o priminho travesso e brincalhão de Babar, com o qual ele diz que se identificava. O filho conseguiu manter tão bem o estilo do pai que muitos leitores nem desconfiaram que o desenhista era outro, pensando que o intervalo de anos entre as histórias da série foi devido à guerra. Graficamente, o livro de Laurent segue os de seu pai, mas seu processo criativo é outro. Jean desenvolvia texto e imagens ao mesmo tempo, esboçando a lápis e acrescentando cor apenas nas etapas finais do trabalho. Laurent primeiro produz toda a história em esboços que são apenas pinceladas de cor ou linhas rápidas de grafite, delineando o texto em páginas separadas. Depois ele produz desenhos completos, em preto, em páginas para provas de impressão e é sobre essas provas que ele aplica as cores finais. Traduzidas para mais de 20 línguas, entre as quais o português, as histórias de Babar já foram acusadas de pura alegoria colonialista francesa. Que idéia subliminar poderia ter a história de um elefantinho que foge da floresta africana, vai parar em Paris, compra roupas com dinheiro patrocinado por uma senhora muito fina e boazinha, toma aulas, passa a andar sobre as patas traseiras e, no fundo, no fundo, acaba virando gente? Mas isso é polêmica para adulto. Para criança, Babar é pura delícia.

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