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Desengano recebe Jabuti de romance

Livro de Carlos Nascimento Silva mostra as transformações sofridas pela família brasileira durante um período de 20 anos

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Por Ubiratan Brasil
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A precisa descrição das transformações sofridas pela família brasileira garantiu ao escritor mineiro Carlos Nascimento Silva mais um Prêmio Jabuti em sua coleção. A Câmara Brasileira do Livro anunciou ontem os vencedores da 49ª edição do prêmio, ainda um dos mais tradicionais da literatura nacional, e Silva teve seu Desengano (Agir) escolhido como melhor romance - em 1999, ele foi também contemplado na mesma categoria, com Cabra Cega (Relume Dumará), além de eleito o melhor livro de ficção do ano. Ele terá a oportunidade de repetir a honraria no dia 31 de outubro, quando os prêmios serão entregues e os livros de melhor ficção e melhor não-ficção serão anunciados.   Confira a lista completa dos ganhadores do Prêmio Jabuti A ação de Desengano se passa durante um período de 20 anos, entre o final da ditadura Vargas, nos anos 1940, e o início da ditadura militar, com o general Castelo Branco no poder. Entre esses dois atos repressores, resiste um ato libertário que é a paixão de uma viúva ainda jovem pelo amigo de seu filho. ''''Não precisei fazer uma pesquisa tão exaustiva como foi para o Cabra Cega e A Casa da Palma, mas, mesmo assim, procurei acrescentar detalhes históricos para facilitar o entendimento do leitor'''', disse Nascimento Silva ao Estado, que desfrutou uma deliciosa manhã ontem, recebendo cumprimentos de amigos e conversando com jornalistas. ''''Um prêmio como o Jabuti é como um ato de sobrevivência, pois é muito difícil publicar livro no Brasil'''', comentou. ''''Assim, quando se é editado e, melhor ainda, premiado por esse trabalho, o contentamento é muito grande.'''' Aos 70 anos, o escritor prepara seu quinto romance, além de ter finalizado dois livros de contos: A Menina de Cá e Las Meninas. A Menina de Cá reúne 20 contos e o título, segundo Nascimento Silva, ''''é uma glosa com Guimarães Rosa, autor de A Menina de Cá''''. Mas enquanto a menina de Guimarães é mais etérea, a de Nascimento Silva é mais terrestre. Já Las Meninas traz um conjunto de 12 a 15 contos. O título é uma referência ao quadro de Velázquez, um dos pintores favoritos do escritor. ''''Homenagem por homenagem, o pintor sevilhano também eternizou a sua. Filho de português, com o sobrenome Silva, mesclou a língua espanhola com a portuguesa e batizou o quadro'''', comentou. Os livros continuam sem editora definida e Nascimento Silva deseja que, com mais um Jabuti na prateleira, a espera seja mais curta. Em segundo lugar na categoria romance ficou Vista Parcial da Noite (Record), de Luiz Ruffato; e, em terceiro, Pelo Fundo da Agulha (Record), de Antonio Torres. Na categoria contos e crônicas, o júri escolheu Resmungos (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), coletânea de textos publicados semanalmente pelo poeta Ferreira Gullar no jornal Folha de S.Paulo. O livro ficou à frente de A Casa da Minha Vó e Outros Contos Exóticos, de Artur Oscar Lopes, que custeou a própria edição, e de O Volume do Silêncio (Cosac Naify), de João Anzanello Carrascoza, que ficou em terceiro. Entre os poetas, mais um mineiro, Affonso Ávila, figurou entre os vencedores - Cantigas do Falso Afonso, o Sábio (Ateliê) foi escolhido como o melhor livro de poesia, seguido de Cântico para Soraya (A Girafa), de Neide Archanjo, e de Raro Mar (Companhia das Letras), de Armando Freitas Filho. Um dos colaboradores do Suplemento Literário, editado pelo Estado nos anos 1950, Ávila já coleciona outros prêmios: em 2003, A Lógica do Erro (Perspectiva) foi escolhido, pela Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA), como melhor livro de poesia. Já o incansável trabalho da professora Marta Rossetti Batista, do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, sobre a biografia e o trabalho da pintora Anita Malfatti (1889-1964) foi lembrado pelo júri da CBL, que escolheu seu Anita Malfatti - Biografia e Estudo da Obra (Editora 34) como melhor obra biográfica. O livro é resultado de quatro décadas de pesquisa. Na categoria reportagem, o escolhido foi A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial), de Eliane Brum. E a melhor tradução foi a feita por Élide Valarini Oliver em O Terceiro Livro dos Fatos e Ditos Heróicos do Bom Pantagruel (Unicamp).

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