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(Des)encontros em tributo a João Donato

Roberta Sá e Fernanda Takai se salvaram numa noite de momentos constrangedores, como a participação de Marcelo Camelo

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Disse Fernanda Takai, anteontem na homenagem a João Donato, no Auditório Ibirapuera: ''As canções são maravilhosas, a orquestra é incrível - este show tem tudo para dar certo, só os cantores é que podem estragar.'' Dito e feito. Com seu jeito cool, Fernanda foi a terceira e saiu-se muito bem nas três canções que interpretou, embora em certos momentos, sua vocalização intimista tenha sido abafada pelo volume da ótima Orquestra Ouro Negro, dirigida por Mario Adnet. Claro que, elegante como sempre, a cantora do Pato Fu não se referia às colegas, mas parte da platéia, que já se incomodara com as performances gélidas de Bebel Gilberto e Adriana Calcanhotto, captou outra mensagem na tal frase. Modesta, Fernanda fez a brincadeira com ela própria, já que tinha tido problemas com o microfone e, por conta disso, teve de repetir Lugar Comum, para alegria geral. Depois cantou Nunca Mais com delicadeza e mostrou toda sua graça na deliciosa Gaiolas Abertas. Bebel confessou-se nervosa ao abrir a noite arriscando-se em três clássicos (A Rã, Flor de Maracujá e Até Quem Sabe) do repertório de Gal Costa , a quem estendeu a homenagem. Valeu o esforço, mas que saudade daquela Gal de 1974. Em seguida Bebel recebeu Adriana para dividirem os microfones em Bananeira, regravada pela primeira. Melhor no CD. Foi o primeiro grande (des)encontro. Adriana assumiu a parada sem muita convicção, sisuda, apesar de disposta, desperdiçando a ótima Amazonas, com letra nova de Arnaldo Antunes e Péricles Cavalcanti. Saiu-se melhor em Naquela Estação, parceria de Donato com Caetano Veloso e Ronaldo Bastos, que ela gravou no primeiro álbum, Enguiço, de 1990. Depois tentou, em vão, que o público repetisse o título-refrão de Emoriô. A platéia estava fria? Sim, mas elas também não engrenaram, não contribuíram para o show esquentar. Pareciam deslocadas, embora já tenham certa afinidade com o intrincado universo donatiano. E olhe que não faltou otimismo dos fãs para que tudo desse certo. A esperança, então, recaía sobre Roberta Sá. Só que antes a platéia foi submetida a Marcelo Camelo. Sem voz, sem ritmo, sem carisma, sem domínio de palco, sem nada que justificasse sua presença ali, foi a coisa mais constrangedora da noite. Para piorar a situação, ainda coube a ele balbuciar canções gravadas por Nana Caymmi (Brisa do Mar) e Ângela Ro Ro (Simples Carinho). Não dá, né? Que falta elas faziam ali. ''Enfim, alguém que canta'', comentou alguém quando apareceu Roberta Sá. Esta, sim, dominou a cena, cheia de suingue, voz, graça e vontade em Não Tem Nada Não, Minha Saudade e Sambou, Sambou. Não salvou o tributo, mas garantiu sua parte, que foi ainda mais valorizada em comparação com os demais. Donato finalmente apareceu no palco em Chorou, Chorou, juntando-se a Roberta e Camelo. Convocando as outras cantoras de volta, veio o segundo grande (des)encontro em Ê Menina. Donato disse que era muita emoção, para corrigir em seguida: ''Não muita.'' Pois é. Marcelo D2 deu uma certa animada no ambiente unindo-se a eles em Balança Menina, mas a confusão era tanta que nem se ouvia quem cantava o quê. O final com A Paz (que Zizi Possi elevou ao sublime) pareceu ainda mais amador, quase um karaokê de colegiais. A cena era bonita, com Donato rodeado pelas meninas e pelos Marcelos, todos sorridentes, mas infelizmente nem todo o elenco teve competência a prestar a homenagem (dirigida por Nelson Motta) que o compositor merecia.

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