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Desafios e polêmicas contra a crise do Municipal do Rio

À frente do teatro carioca, Carla Camurati fala da reforma antes de a instituição completar 100 anos em 2009

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Em outubro de 2007, quando Carla Camurati assumiu a presidência da Fundação Teatro Municipal do Rio, em meio a uma crise, sabia que enfrentaria toda sorte de dificuldade: tinha de fechar a programação em curso, dar início à recuperação do prédio histórico, que em 2009 faz 100 anos, conter a insatisfação dos corpos artísticos e, claro, encontrar soluções para a crônica falta de dinheiro da instituição. Passados quatro meses, os problemas não estão de todo resolvidos, naturalmente, mas Carla, uma apaixonada pelo teatro, avalia que está no caminho certo. "Brinco que passamos o primeiro mês só fazendo saneamento básico. Estamos botando o teatro no patamar de onde ele jamais deveria ter saído", disse ela ao Estado. "As pessoas só pensam na programação e têm vergonha de dizer que se preocupam com as estruturas. Eu não tenho. Cuidar do teatro é um prazer enorme, uma alegria, e é onde eu me sinto útil." Atriz e diretora de filmes e óperas, Carla, que nunca tivera um cargo público, lida agora com uma megaestrutura - são cerca de 700 funcionários - e tenta driblar a burocracia para levar adiante as (complexas) obras e a reestruturação da casa. A reforma fechará o teatro por dez longos meses, de outubro de 2008 a julho de 2009. A reabertura ao público será no aniversário do Municipal, em 14 de julho. "Nos meus sonhos, já vejo o (presidente) Lula e o (governador) Sérgio Cabral à porta do teatro cortando a faixa", brinca. Para conseguir dar conta de tudo que tem de fazer, ela conta com o auxílio luxuoso de seu diretor artístico, Roberto Minczuk. Tão empolgado com a missão quanto a "chefe", o maestro já anunciou que diminuirá o ritmo de suas participações em concertos mundo afora para conseguir conciliar o trabalho no Municipal, a direção artística e regência da Orquestra Sinfônica Brasileira e da Filarmônica de Calgary, do Canadá, e ainda o Festival de Inverno de Campos do Jordão. Minczuk não pôde dar entrevista ao Estado porque estava na Europa regendo. As obras no teatro começaram pelo telhado, há poucos dias. As falhas na cobertura permitiam a entrada de água, que chegou perto de pinturas de Eliseu Visconti no teto do segundo andar. Em oito meses, as duas rotundas e o zimbório (parte da frente) deverão estar prontas. Depois, será a vez da cúpula e das restaurações artísticas. Desde o carnaval, o prédio passa por descupinização. Outras providências já tomadas, e que não exigem muito dinheiro: pintura de áreas de backstage, retirada de panos que comprometiam a clareza do som, contratação de 66 funcionários administrativos terceirizados. Integrantes dos corpos artísticos do teatro assistem às mudanças com um misto de apreensão e otimismo. No ano passado, eles sofreram com o cancelamento de espetáculos agendados, provocado pela falta de recursos (uma parte do orçamento, este ano em R$ 40 milhões, incluindo gastos com custeio e programação, não chegou aos cofres). "O que a gente tem hoje é a esperança de que as coisas melhorem. A gente tem de acreditar. De 2001 para cá, o teatro foi ladeira abaixo", lamenta João Carvalho, representante do balé do Municipal. Ele e os colegas não vêem com bons olhos o fechamento do teatro por tanto tempo. "No Brasil, as obras têm data para começar, mas não para terminar. Se o balé pára, é o fim da companhia", diz Carvalho. Durante as obras, a direção já divulgou que os corpos estáveis farão apresentações fora da capital, com apoio da Federação das Indústrias do Estado. Pedro Olivero, da Associação do Coro, gostou da novidade. "Este ano, vamos trabalhar muito mais e melhor do que no ano passado. A programação está boa e o coro será mais aproveitado. A presidente é boa captadora de recursos e a crise artística está passando." De uma coisa ninguém pode reclamar: é fevereiro e a programação até setembro já foi anunciada (como deve ser, mas ao contrário do que se viu em anos anteriores). Patrocinado pela Michelin, a abertura, em 21 de março, será com Stabat Mater, de Dvorak, com a orquestra e o coro e a regência de Minczuk. Ao longo do ano, também passarão pela majestosa sala obras de Kurt Weill, Puccini, Prokofiev, Wagner, Beethoven e Rossini. Dois balés estão confirmados: Giselle, em abril, e La Fille Mal Gardée, em julho e agosto. Para garantir que o caos não volte a se instalar no Municipal, Carla recorre a parcerias com a iniciativa privada. Já acertou o patrocínio da Oi para todos os concertos do ano, e está fechando contratos para balés e óperas. Futuramente, espera tocar, com a secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes, o processo de transformação do teatro numa organização social de capital misto, o que lhe permitirá captar recursos entre empresas (o mesmo aconteceu com a Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em 2005). Programação REENVIO -TEATRO MUNICIPAL/PROGRAMAÇÃO - CADERNO 2 - 15/02/08 TEMPORADA 2008 - TEATRO MUNICIPAL DO RIO MARÇO - Stabat Mater, Dvorak (concerto). Orquestra e Coro do Teatro Municipal. Regência: Roberto Minczuk. Solistas: Elizabeth Whitehouse, soprano/ Adriana Clis, meio-soprano/ Fernando Portari, tenor ABRIL - Sete Pecados Capitais, Kurt Weill (balé cantado). Orquestra e Coro do Teatro Municipal. Regência: Roberto Minczuk. Solistas: Gun-Brit Barkmin, soprano/ Ana Botafogo, bailarina Vôo de Linberg, Kurt Weill (cantata radiofônica). Orquestra e Coro do Teatro Municipal. Regência: Roberto Minczuk. Solista: Charles Workman, tenor Giselle, Adolphe Adam (balé). Corpo de Baile e Orquestra do Teatro Municipal. Regência: Silvio Viegas MAIO - Fidelio, Beethoven (ópera). Orquestra e Coro do Teatro Municipal. Regência: Roberto Minczuk JUNHO - La Cenerentola, Rossini. Orquestra e Coro do Teatro Municipal. Regência: Roberto Minczuk (cinco récitas em junho; outras duas em julho) JULHO - Gala, Giacomo Puccini/Carlos Gomes. Orquestra e Coro do Teatro Municipal e solistas convidados. Regência: Silvio Viegas AGOSTO - La Fille Mal Gardée, Peter-Ludwig Hertel (balé). Corpo de Baile e Orquestra do Teatro Municipal. Regência: Silvio Viegas (primeira récita no dia 31/7; outras seis em agosto) Composição Sobre a Obra de Machado de Assis, João Guilherme Ripper. Orquestra do Teatro Municipal. Regência: Roberto Minczuk. Solista: Eliane Coelho, soprano Alexander Nevsky (cantata), Prokofiev. Orquestra e Coro do Teatro Municipal. Regência: Roberto Minczuk. Solista: Elena Obratszova, contralto SETEMBRO - La Bohème, Puccini. Orquestra e Coro do Teatro Municipal. Regência: Roberto Minczuk/ Silvio Viegas. Solistas: Carmela Remigio, soprano /Fernando Portari, tenor /Paulo Szot, barítono OUTUBRO - O Anel Sem Palavras, Richard Wagner/Lorin Mazel. Orquestra do Teatro Municipal/Orquestra Sinfônica Brasileira. Regência: Roberto Minczuk

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