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Depardieu e Chabrol em policial com tom familiar

O ator filma pela primeira vez com um dos ícones da nouvelle vague francesa

Por Luiz Carlos Merten e BERLIM
Atualização:

Há tempos que Claude Chabrol e Gérard Depardieu vinham tentando desenvolver projetos para trabalhar juntos. Dois ou três deles fracassaram por motivos variados. Há dois anos, ao se reencontrar, eles concluíram que era uma vergonha não fazer logo um filme. Chabrol criou - com Odile Barski - o roteiro de Bellamy pensando no ator. "Filmei muitas vezes com os mesmos atores, ao longo de minha carreira. Não escrevia especificamente para Stéphane (Audran) nem Isabelle (Huppert) ou agora para Benoit (Magimel), mas sempre soube o que eles podiam fazer. O caso de Gérard é especial. Como escrevi o personagem pensando nele, tratei de incorporar coisas que são do ator. Quem achar que isso facilita a interpretação, engana-se. Gérard é ele e seu personagem em Bellamy. Num certo sentido, estou fazendo com que ele trabalhe em dobro por um só salário." Chabrol parece um pouco mais gordo - e mais velho - que no ano passado, quando foi entrevistado pelo repórter do Estado em Paris, durante os Encontros do Cinema Francês. O entusiasmo, pela vida e pelo cinema, continua forte. Os olhos brilham por estar de volta a Berlim. Há 50 anos, por iniciativa de Robert Aldrich, que presidia o júri, ele ganhou seu primeiro Urso por Os Primos. Chabrol engana-se e diz ?Leão de Ouro?, depois desculpa-se. "Urso, leão, leopardo de ouro. Troco esses animais todos." Bellamy é um roteiro original. Pensando em Depardieu, Chabrol criou para ele um personagem simenoniano. O filme, aliás, é dedicado aos dois Georges, Simenon e Brassens. O segundo é referido várias vezes na trama. Depardieu faz esse policial que se envolve numa investigação envolvendo um caso de assassinato e um golpe aplicado numa seguradora. À trama criminal soma-se o momento familiar do protagonista - sua mulher quer viajar, já que ele está em férias, mas o inspetor usa como álibi para ficar em casa a visita do irmão alcoólatra. Há uma situação não resolvida entre ambos. No passado, o herói tentou ?suprimir? o irmão, que agora terá a palavra final. Como? Aguarde para ver Bellamy. "Quis fazer algo diferente, um policial em que a trama familiar é mais importante que a criminal. A primeira é resolvida, a segunda ganha uma solução apenas parcial. Vamos ver como o público reage. Dependendo da aceitação, ou não, poderei desenvolver outro projeto que prossegue com a investigação sobre comprometimento social de Bellamy." O filme encerra-se sobre uma citação de Paul Auster relativa aos limites da ficção. "Descobri agora lendo Telérama que a mesma citação foi incluída por Carla Bruni (mulher do presidente Nicolas Sarkozy) numa de suas canções. A imprensa vai querer fazer uma leitura política sobre Sarkô por causa disso". São curiosos os caminhos da criação. "Odile, minha corroteirista, inspirou-se em disputas familiares que mantenho com minha mulher para alimentar a ficção. Como Bellamy, eu também não gosto de viajar, embora meu trabalho muitas vezes me obrigue a isso." Como é estar de volta a Berlim? "Agradável. Tenho belas lembranças dessa cidade, incluindo gastronômicas. Come-se muito bem aqui. Não queria participar da competição porque acho que seria tirar dos jovens uma possibilidade de exposição de que eles necessitam mais do que eu. Mas mostrar o filme, associar o Urso ao cartaz, ajuda na publicidade. Ganhar um prêmio - Berlinale Kamera -, também." O repórter não se furta a observar que, após filmar com Depardieu, só falta agora a Chabrol dirigir outro ícone do cinema da França, Catherine Deneuve. "Mas eu já dirigi Catherine e, aliás, num papel que escrevi para ela. Poucas gente se lembra, acho que nem ela" (e Chabrol ri). "Foi no episódio de Les Plus Belles EScroqueries du Monde, sobre o homem que queria vender a Torre Eiffel. Catherine estava grávida e eu criei essa mulher prestes a dar à luz para ela. Catherine estava grosse (gorda) assim" (e o diretor faz um gresto imenso com a barriga). Quase tão gorda quanto Gérard (e ele ri gostosamente da própria piada)." Depardieu, realmente, está com a silhueta de Marlon Brando em fim de carreira. Mais um pouco e ele estoura em cena. O excesso de peso não impede que ele esteja ótimo - nem que o personagem seja um homem sedutor para as mulheres. Bellamy mantém uma relação carinhosa com a mulher, o que não o impede de suspeitar que ela tenha ido para a cama com seu irmão. "A relação do casal e o triângulo formado com o irmão fornecem o verdadeiro tema desse filme", conclui o diretor. O repórter viajou a convite da organização do festival

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