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Delírios caribenhos

Por Nelson Motta
Atualização:

Podem até imaginar que sou uma espécie de masoquista político, mas não consigo me livrar do vício insanável de ler todos os dias as Reflexões do Companheiro Fidel no Granma. Para dar boas gargalhadas. Agora ele denuncia o monopólio das comunicações, "que estão nas mãos de grupos que controlam tudo que é publicado", sempre em defesa dos interesses mais vis do Império. Justamente quando nunca houve no mundo tanta liberdade e diversidade de fontes de informação na televisão e na internet, de graça e para todos. Menos em Cuba, onde a internet ainda é a querosene, e só funcionários fiéis do Estado têm acesso. Conexão em casa, nem pensar, os cubanos não podem navegar nem em lan houses, só os estrangeiros. O Beiçola de Caracas deve babar de inveja. Agora Fidel informa ao mundo que: "São evidente os esforços do Pentágono para monopolizar a informação e as redes de internet. Para bloquear o acesso de Cuba a essas fontes." Entenderam? Ele descobriu que o Pentágono controla a internet e conspira contra Cuba, bloqueando o seu acesso à rede. Além do "bloqueio" econômico, o digital. Nem o mais idiota dos latino-americanos pode acreditar nesse delírio cínico. Porque é ele que bloqueia o acesso dos cubanos à internet e às TVs internacionais! A verdadeira revolução vai começar quando a internet e a TV forem livres para todos os cubanos. E a tecnologia, que não tem ideologia, tornará isso inevitável, é só uma questão de tempo e de bites. O companheiro Fidel tem futuro, na página de humorismo. Falando nisso, vale uma visita à pagina de humorismo, sim, ela existe, do Granma. É a coisa mais triste do mundo. Os temas das charges são sempre o Império e o Capitalismo. Não há piadas sobre ninguém, nem sobre nenhum problema cubano, nem os mais básicos, como alimentação e transporte. Uma típica charge deles é assim: Capitalista com um saco de dinheiro na mão: "Preciso encontrar um paraíso fiscal". Capitalista atrás do guichê da Bolsa de Valores: "Pois aqui vais encontrar o inferno financeiro". Hahaha, esse humor revolucionário é mesmo de matar de rir. Ou de chorar, no caso dos cubanos.

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