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De Da Vinci a Picasso, rascunhos de grandes artistas são expostos em Roma

Mostra na Villa Medicis, que abriga a Academia Nacional da França em Roma, permite descobrir segredos que não deveriam ser vistos pelo público

Por Gildas Le Roux
Atualização:

Escondidos no verso de telas ou rabiscados em folhas de papel: esboços e rascunhos foram utilizados por artistas de Michelangelo a Pablo Picasso para explorar e liberar a criatividade. 

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A histórica Villa Medicis, que abriga a Academia Nacional da França em Roma e artistas de prestígio desde o século XVII, convida o público a descobrir esse lado pouco conhecido da produção artística, por meio de uma exposição que reúne cerca de 300 obras originais de artistas que marcaram a história da arte. 

Apelidado de "Rascunhos e rabiscos - De Leonardo da Vinci a Cy Twombly", a exposição deste inusitado conjunto de desenhos nos leva a descobrir deliciosos segredos que não deveriam ser vistos pelo público. 

Visitante observa obra do italiano Pier Leone Ghezzi, do século 18. Foto: Alberto Pizzoli/AFP

Isso é evidente nos painéis de madeira do majestoso Tríptico da Virgem de Giovanni Bellini, cujo verso esconde "toda uma série de desenhos de palimpsestos, que nada têm a ver com o tema da frente", explicou à AFP Francesca Alberti, curadora da exposição.

Podemos até distinguir na madeira “uma figura grotesca com as suas duas pernas”, um desenho sem limitações cheio de “ironia e jogo”, diz. 

"Dos grandes mestres do Renascimento, conhecemos pinturas, desenhos perfeitamente acabados (...) mas o que mostramos nesta exposição é uma série de desenhos onde a mão do artista se liberta", resume Alberti. 

Aqueles desenhos experimentais, transgressores, regressivos ou libertadores, que não se submetem às regras e constrangimentos da arte "oficial", lembram o frescor dos rabiscos infantis. 

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O próprio Pablo Picasso se referiu a eles: "Levei quatro anos para pintar como Rafael, mas levei uma vida inteira para aprender a desenhar como uma criança". 

Outra fonte de inspiração tem sido os grafites feitos às pressas nas paredes das grandes cidades. Até mesmo o divino Michelangelo (1475-1564) se divertia em seu tempo imitando as silhuetas pintadas rusticamente em algumas fachadas florentinas.

Fora Putin!

Menos rígidas e mais espontâneas, essas formas representam o lado oculto da obra do artista, mergulhando o visitante no cerne do processo criativo. 

Visitante observa obra do artista renascentista italiano Stefano Della Bella Foto: Alberto Pizzoli/AFP

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A proposta da Villa Medicis ignora deliberadamente a cronologia e mistura épocas alegremente, oferecendo conexões inéditas entre grandes mestres (Da Vinci, Michelangelo, Ticiano, Bernini...) com artistas modernos e contemporâneos (Picasso, Dubuffet, Cy Twombly, Basquiat...). 

Na ampla escadaria da elegante Villa, originalmente destinada à entrada de cavalos, "apresentamos um diálogo entre desenhos renascentistas e desenhos contemporâneos", destaca Alberti ao mostrar um esboço de Pontormo (1494-1557) junto a dois "rabiscos" feitos em 1954 no escuro pelo artista americano Cy Twombly, que morreu em 2011 em Roma. 

No centro da escada, a Virgem e o menino de Taddeo Zuccari (1529-1566) "desaparece entre linhas rabiscadas como se a mão do artista estivesse completamente livre". 

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Para a curadora, esses esboços e rabiscos eram "muito importantes" porque permitiam "soltar a tensão acumulada pelo desenho", "redesenhá-los com a mesma energia". 

Os visitantes da exposição são também convidados a estimular a sua própria criatividade em uma sala cujas paredes foram pintadas de cinza. 

Alguns escreveram frase como "Fora Putin!", "Viva a paz" ou pintaram bandeiras listradas de azul e amarelo da Ucrânia. 

Outros deixaram inscrições irônicas: "Os dinossauros desapareceram porque ninguém os acariciou, não devemos fazer o mesmo com as mulheres".

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