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De Batman a Vigo, para todo mundo

Mercado oferece desde blockbusters a clássicos restaurados em edição de luxo

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Você já pode baixar do YouTube alguns, ou vários, dos novos filmes que se anunciam como os grandes lançamentos do próximo Oscar. Um certo número deles já passou pela prévia dos Globos de Ouro e concorre aos prêmios da Associação dos Cronistas Estrangeiros de Hollywood, mas - que diabo! - você não vai ficar dando a amigos, pessoas queridas, numa festa como o Natal, presentes pirateados. Existem coisas muito boas, coisas especiais à venda nas locadoras e lojas especializadas. Sem querer fazer o comercial, nas Lojas Americanas e na 2001, você encontra sempre títulos em oferta e na DVD World há de tudo, só que aí você precisa encomendar e o presente talvez não chegue a tempo de ser aberto na noite de Natal. Sabe aquele amigo romântico, com um gosto mais apurado para as composições plásticas e as histórias clássicas? Ele poderá adorar (re)ver Desejo e Reparação, que Joe Wright adaptou do romance de Ian McEwan (R$ 39,90). Na época, os críticos andaram falando mal do filme, que ele diluía o livro e coisa e tal. Bobagem. O filme não é sobre o poder regenerador das palavras, é justamente o contrário, sobre a dor de percebermos que nada traz de volta aquilo que o poeta Woodsworth chamava de ?esplendor da relva? e que Elia Kazan usou como título de sua obra-prima Clamor do Sexo (Splendor in the Grass). Os românticos também gostarão de ganhar, quem sabe, o fecho da trilogia da cortina Vermelha de Baz Luhrmann, Moulin Rouge - Amor em Vermelho, a edição definitiva, R$ 24,90. Desde a primeira cena, ao som de Nature Boy, o diretor australiano aponta o caminho e recria, com o máximo de artifício - quer artifício maior do que o filme cantado? - uma outra versão do imortal Rocco e e Seus Irmãos, de Luchino Visconti, na qual um outro idealista é arrastado a uma espiral de destruição por uma prostituta que, no entanto, o ama com sinceridade. Existem tantos lançamentos novos em DVD que o cinéfilo talvez termine querendo comprá-los todos - ou o maior número possível - para a própria coleção. São Bernardo, de Leon Hirszman, não é só outra belíssima adaptação de Graciliano Ramos - um caso único de escritor só bafejado pelas obras-primas; vejam-se as de Nelson Pereira dos Santos, Vidas Secas e Memórias do Cárcere -, mas você terá a oportunidade de ver e rever sempre o lento movimento de câmera final, aquele plano-seqüência memorável do diálogo de Paulo Honório e Madalena, ou melhor, o monólogo dela, quando Isabel Ribeiro tem uma das maiores interpretações femininas da história do cinema brasileiro. Seu amigo/amiga gosta de western? Dê-lhe O Último Pôr-do-Sol, de Robert Aldrich, com o roteiro psicanalítico de Dalton Trumbo e as implicações incestuosas do quadrilátero formado por Rock Hudson/Kirk Douglas/Dorothy Malone/Carol Lynley. O cara ou a garota reza pela cartilha do cinema de autor? Neste caso, você poderá escolher entre um grande Kurosawa (Os Sete Samurais, R$ 29,90), um Truffaut (A Mulher do Lado, R$ 39,90). um Buñuel, aliás, dois (O Discreto Charme da Burguesia e Via Láctea, por R$ 37,50 o primeiro; R$ 39,90 o segundo). Quer pagar um pouco mais? O Don Giovanni que Joseph Losey adaptou da ópera de Mozart, é deslumbramento para os olhos e ouvidos (R$ 49,90) e existem as coleções - a integral de Jean Vigo, também por R$ 49,90 (aliás, se você ainda está sob o impacto do efeito Madonna, saiba: L?Atalante é o filme preferido da pop star, com o Masculino Feminino, de Jean Luc Godard); a Coleção Jacques Tati, um pouco mais salgada, por R$ 78,50, mas Monsieur Hulot vale quanto custa; o volume 2 de Woody Allen, com A Era do Rádio, Memórias e Broadway Danny Rose, por R$ 59,90. Agora, para cinéfilos radicais, um superprograma, a integral de Berlin Alexanderplatz, de Rainer Werner Fassbinder, o autor que faz tremer o mundo burguês. O ?terremoto? (uma caixa com 6 DVDs) custa R$ 169, mas vale cada centavo. Tantos filmes, tantos autores, tantos atores. O Veredicto, de Sidney Lumet, é um lançamento duplo (um disco só de extras), para satisfazer os admiradores de Paul Newman - e quem não era? -, só por R$ 29,90. Joseph Mankiewicz, o chamado cineasta da palavra? Você pode optar entre presentear a versão definitiva de A Malvada (All About Eve) e Charada em Veneza, adaptado de Volpone, de Ben Johnson, cada um por R$ 24,90. Alguém falou em Bernardo Bertolucci - que tal o primeiro tango em Paris, dançado por Dominique Sandra e Stefania Sandrelli, em O Conformista, por R$ 37,50? Você pode fingir que vai presentear as crianças e dar-se as animações Ratatouille e Wall-E, por que não? Para o fim, ficam duas e talvez três preciosidades do ano, recém lançadas: Chega de Saudade (R$ 29,90), de Laís Bodanzky, concentra o mundo num salão de danças e ainda tem aquela trilha que vai ficar em seus ouvidos. Batman - O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, celebra o triunfo do cinemão, e Não Estou Lá, de Todd Haynes, o triunfo da invenção sobre a vida de Bob Dylan, ambos com Heath Ledger, uma das grandes perdas do ano. O primeiro custa R$ 49,90, o outro, R$ 19,90, o que nos permite supor que a invenção, afinal de contas, é um artigo barato. Faltou alguma coisa? Um joguinho de cena. Eduardo Coutinho e seu admirável décimo longa-metragem, o documentário Jogo de Cena, nas bordas da ficção, por R$ 45,90.

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