Da bolsa

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Por Redação
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Por dentro, mulher não é muito diferente de homem. Fora nas partes óbvias, em que somos convexos e elas são côncavas, e em um ou outro detalhe, somos iguais. Anatomicamente, portanto, a mulher não tem mistério para o homem. Ali fica o coração, ali o fígado, ali (onde mesmo?) o pâncreas... Igualzinho a nós. Não é verdade que elas têm glândulas secretas que a medicina ainda não se animou a examinar a fundo, como as que determinam o seu comportamento na direção de veículos automotores e em shoppings. Temos (mais ou menos) as mesmas glândulas. Só duas partes da mulher continuam a desafiar a compreensão dos homens: sua mente e sua bolsa. Sabemos muito pouco do conteúdo de ambas e estamos constantemente nos surpreendendo com o que sai lá de dentro. E quando pedimos explicações, elas despistam. O cérebro feminino não é biologicamente diferente, que eu saiba, do cérebro masculino e uma bolsa de mulher não deveria ser diferente de qualquer outro meio de guardar e transportar coisas, mas as surpresas se repetem. Tanto a mente quanto a bolsa femininas parecem ter acessos a mundos, mananciais, veios, supridores inacessíveis ao pensamento ou à mão do homem. De onde é que elas tiram aquilo tudo?! É uma pergunta que nos atormenta desde aquele momento em que a Eva não só teve a idéia de comer a fruta proibida como produziu - de onde, meu Deus? - o canivete para descascá-lo e uma toalha para estender na grama, e nunca mais fomos os mesmos. Li que um japonês inventou um aparelho que, adaptado à coleira, traduz o latido do cachorro. O cachorro late ou rosna e aparece numa telinha o que ele está tentando dizer para o seu dono. "Quero comida", "Preciso fazer pipi", "Troca de canal", "Gostei do seu cabelo assim", etc. O mercado para a invenção é enorme, só a julgar pelos donos de cachorro que conheço. Finalmente eles vão poder não apenas falar mas dialogar com seus cachorros, trocar idéias, saber o que eles pensam da vida e dos homens. Há o risco, claro, da contestação inesperada. Do dono dizer "Senta" e o cachorro responder "Contextualiza". Mas o interpretador de cachorros chega para preencher uma profunda necessidade humana. Gênio. De acordo com a lógica que diz que com a invenção do fogo, inventaram o piromaníaco, cada nova técnica inaugura uma nova forma de loucura. Como a da jovem executiva, dinâmica, sem tempo a perder, chamada Jussara, que no outro dia teve o seguinte diálogo pelo seu telefone celular: - Alô. - Alô? - Quem é? - Eu. - "Eu" quem? - Eu quero falar com a Jussara. - É a Jussara que está falando! Ela jura que estava falando com ela mesma! E novas técnicas criam novas superstições. Muita gente acredita que as câmeras fotográficas digitais não apenas capturam a alma do fotografado como a transformam em microimpulsos que sobem e formam um cinturão eletrônico em volta da Terra, misturado com o ozônio. Velhas crenças, como o perigo mortal de comer melancia com leite antes de pular na piscina, ganham vida nova. Por exemplo, misturar tequila "Subcomandante Marcos", pimenta e Prozac antes de pular na piscina. Mulheres com silicone devem passar pelos detectores de metais dos aeroportos de costas, senão os seios podem explodir. E o botox derrete. Guardar o Viagra numa cesta com ovos frescos por uma noite e fazer o sinal da cruz antes de ingeri-lo aumentam sua eficácia. Etcetera, etcetera.

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