Comédia e drama que vêm do canto

Figura em ascensão, a diretora Lívia Sabag fala sobre Palestra Sobre Pássaros Aquáticos e O Urso, que estréiam no São Pedro

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Por João Luiz Sampaio
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"Sempre fui fascinada pelo trabalho do intérprete, em especial em óperas marcadas pelo equilíbrio entre teatro e música." O credo da jovem diretora Lívia Sabag parece tê-la colocado na direção certa. Nos últimos dois anos, ela tem surgido no cenário operístico brasileiro com produções bastante elogiadas pela crítica especializada. Uma cara jovem, e talentosa, na ópera brasileira, que estréia hoje no Teatro São Pedro seu novo trabalho, a dobradinha Palestra Sobre Pássaros Aquáticos e O Urso, óperas de um ato de Dominick Argento e William Walton baseadas em textos de Chekhov. A direção musical é de outra jovem promessa: o maestro Rodrigo de Carvalho, recentemente apontado como regente-assistente da Sinfônica Municipal. "Foi o Rodrigo quem escolheu os títulos, levando em consideração o tamanho do palco do São Pedro e o perfil do teatro, bastante propício ao repertório de câmara", diz Lívia durante intervalo nos ensaios. "Mas o interessante é que elas, mesmo fazendo parte da mesma série de textos do Chekhov, têm características bastante diferentes. A Palestra é baseada em Os Males do Tabaco, uma mistura de drama e comédia que fala do ser humano preso na família, na sociedade, escravo da própria vida. Já O Urso é uma comédia mais explícita, apesar de que, com Chekhov, nada é definitivo, ele sempre consegue mudar os rumos da narrativa." Cada ópera segue uma linha de interpretação distinta, apreendida pela diretora a partir dos estímulos da música. "A ópera do Argento valoriza muito o texto falado e a música está repleta de texturas sugeridas pelo texto. Já o Walton escreve uma partitura mais musical, mais melódica, mais lúdica, que trata a música como uma personagem mesmo. Dessa forma, na primeira ópera o personagem é o foco e os cenários formam uma base para ele. Já no Urso, pude brincar mais com o espaço cênico, desconstruí-lo, de forma que o entorno não se relaciona com a história e os personagens de maneira realista." Palestra Sobre Pássaros Aquáticos será interpretada pelo baixo-barítono Lício Bruno, que faz o primeiro monólogo de uma carreira que está completando 20 anos; em O Urso, atuam a meio-soprano Keila de Moraes, o barítono Igor Vieira e o baixo Carlos Eduardo Marcos. Rodrigo de Carvalho comanda a Orquestra de Câmara São Paulo Ensemble, formada por cerca de 15 instrumentistas. VIDA NO TEATRO Lívia conta que nasceu em uma família de artistas e que, a vida toda, esteve no meio da música. Seu pai é maestro - e, acompanhando-o, ela viveu entre músicos, cantores. A ópera surgiu naturalmente na sua vida. Ela estudou canto. Foi também bailarina. Fez faculdade na USP. E ali começou a dirigir óperas. A estréia foi em 2003, com O Empresário, de Mozart, na universidade. Na seqüência, estagiou no Teatro Municipal de São Paulo, começou a trabalhar como diretora-assistente. No ano passado, conquistou o público com Il Matrimonio Segreto, de Cimarosa, no Teatro São Pedro; no primeiro semestre, esteve em Manaus como assistente de direção; e, há dois meses, dirigiu Amelia al Ballo, de Gian Carlo Menotti, no Teatro Municipal de São Paulo. "Eu me interesso muito pelo entendimento teatral da música. E pelo trabalho do intérprete. Desde que comecei a dirigir estou preocupada em lidar com isso, em mostrar para o cantor que ele é também um ator, esse é o objetivo do meu trabalho", diz. Não por acaso, ela sabe bem as óperas que quer dirigir. "Gosto muito de títulos contemporâneos. Mas não tenho nada contra o repertório tradicional. Amo Puccini, suas óperas são muito bem resolvidas no equilíbrio entre teatro e música. O mesmo com Verdi, com Mozart." Serviço Pássaros Aquáticos e O Urso. Teatro São Pedro (636 lugs.). Rua Barra Funda, 171, Barra Funda, tel. 3667-0499. Hoje, às 20h30; sáb. e dom., às 17 horas. Ingressos R$ 20

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