Com olhar crítico e social, Pinacoteca inaugura três novas exposições

Visitação começa neste sábado, 26. Museu quer levar público a refletir sobre os diferentes aspectos da atual sociedade

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Por Maiara Santiago
Atualização:

A Pinacoteca do Estado de São Paulo vai inaugurar neste sábado, 26, três exposições de décadas e estilos diferentes, mas que possuem entre si uma única intenção: levar o público a refletir. Em exibição, estarão as obras de Léon Ferrari, de alguns dos principais artistas do cenário da xilogravura brasileira e também do novato Adrià Julià, artista catalão que faz sua primeira exposição individual aqui no Brasil.

Obra faz parte da série 'Nosotros no sabíamos', 1995, de León Ferrari Foto: Isabella Matheus / Pinacoteca

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Já conhecido nas salas da Pinacoteca, Léon Ferrari: Nós Não Sabíamos, traz ao público as obras críticas feitas pelo argentino em relação às décadas de 1960 e 1970, quando se refugiou no Brasil para fugir da ditadura que se iniciava na Argentina. Dentre as peças expostas, estão colagens feitas com páginas retiradas de livros e jornais, e ‘enfeitadas’ com imagens de santos, militares e antigas manchetes, em uma crítica direta à situação política de seu país natal.

“O Léon se posiciona de forma muito incisiva sobre essas estruturas de poder que controlam a liberdade do cidadão, como o aparato da violência de Estado e o cerceamento religioso”, comenta Valéria Piccoli, curadora chefe da Pinacoteca. “Sua exposição também mostra a importância de olhar para os caminhos que já percorremos, como sociedade, e questionar se queremos de fato repetí-los”, explica.

Gravura e Crítica Social, que reúne grandes artistas da xilogravura no Brasil, como Lasar Segall, Oswaldo Goeldi e Renina Katz, também traz um olhar crítico, só que este mais específico sobre a realidade brasileira. E apesar das obras terem sido produzidas há mais de setenta anos, elas continuam abordando temáticas ainda muito atuais.

“Renina Katz observou muito, durante a década de 1950, o êxodo do nordestino para São Paulo, e também tinha um olhar especial para as figuras da favela. Todas essas são preocupações ainda muito presentes hoje em dia, pois servem para pensarmos sobre que tipo de sociedade estamos construindo”, explica Piccoli.

'Trabalhadores de Café', 1950, de Renina Katz Foto: Isabella Matheus / Pinacoteca

E apesar das peças já fazerem parte do acervo da Pinacoteca, devido à fragilidade do material, dificilmente elas ficam expostas por muito tempo ao alcance do público, o que as tornam praticamente exclusivas.

 

Estreante

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Já a novidade desta maratona de inaugurações é o trabalho de Adrià Julià, Nem Mesmo os Mortos Sobreviverão. O artista contemporâneo catalão, que realiza pela primeira vez uma exposição individual aqui no Brasil (até então ele tinha participado apenas de mostras coletivas), vai explorar o valor material das imagens em um cenário cada vez mais digital.

Imagem da obra 'Exercise for an Overexposed Landscape #2', de2019. Na composição,Adrià Julià utilizou cloreto de ouro e urina humana durante a composição Foto: Adrià Julià

Para construir a estética da exposição, Julià estudou por meses os trabalhos do pioneiro na fotografia, Hercule Florence, na expectativa de conseguir reconstruir até mesmo os seus mais ‘fracassados’ experimentos. Uma das peças mais peculiares da sua exposição, inspirada em um trabalho de Florence, envolve uma máquina que usa o cloreto de ouro para criar uma imagem e a urina humana para fixá-la, em um processo de que leva um dia inteiro até estar completo. 

“A experimentação é um dos pontos de partida da exposição, que traz todo esse trabalho com a fotografia, tendo como ponto de partida uma imagem que em algum momento já existiu, mas que sumiu, se transformou ou alterou seu valor”, explica Julià em entrevista ao Estado. 

É nesse pensamento sobre o valor da imagem, que Julià fixa a sua crítica. “A inquietação do artista vem desse lugar que a imagem tem no mundo contemporâneo, pois além da imagem ter a função de registro, se fazendo presente em documentos e bancos, ela também funciona como mecanismo de controle da sociedade e das relações”, detalha Fernanda Pitta, curadora da exposição.

No entanto, a relação que o tema tem com o título, Nem Mesmo os Mortos Sobreviverão, é algo que o estreante fez questão de deixar em segredo. “A exposição trabalha com o lúdico, pois quero com isso despertar o imaginário do público. Então cabem neste título uma série de interpretações e possibilidades, que devem ser pessoais de cada um”, finaliza Julià.

PINACOTECA

PRAÇA DA LUZ 2

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26/09 ATÉ 16/02;

4ª a 2ª/ das 10h às 17h30

R$10,00 (INTEIRA)/ R$5,00 (MEIA)/ LIVRE AOS SÁBADOS

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