Com groove e um sorriso nos lábios

Cheia de suingue, Verônica Ferriani estreia em CD produzido por BiD, trazendo a experiência de palco com espírito de grupo

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Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Quem tem groove tem tudo, já dizia Fred Zero Quatro. Verônica Ferriani sabe a importância disso, tanto é que foi estudar música numa escola com esse nome. Mas ter suingue não é o que basta. Antes de lançar o primeiro CD, Verônica Ferriani (independente), ela desenvolveu bons trabalhos em grupo no palco, cantando repertório de gêneros, épocas e origens diversas. Em princípio, é bom que se reconheça, ela é uma cantora que tem voz - quesito que a maioria das novatas que se arriscam a encarar o microfone nem cogitam, mas enganam bem com os recursos de estúdio. Segundo, e não menos importante, ela é criteriosa na escolha de canções e músicos. "No palco é onde eu me sinto mais à vontade", diz Verônica. "Quando começamos a gravar o disco eu já tinha quatro anos e meio de shows e minha experiência de gravação era muito pequena. Não sou dessas pessoas que ficam em casa gravando e se ouvindo. Gosto mesmo é de fazer música com os músicos ao vivo." Por conta disso, o resultado é um trabalho em grupo que "fica mais envolvente". Essas experiências reverberam no revelador disco de estreia da cantora, produzido por BiD, expert em groove, e quase todo gravado ao vivo em estúdio. Dando uma volta pelos anos 70, Verônica abre o CD com Um Sorriso nos Lábios (Gonzaguinha da melhor fase, pré-Explode Coração), mixa Cassiano (Eu Amo Você, hit na voz de Tim Maia) com Paulinho da Viola (Perder e Ganhar) por um viés bem pessoal, renovador. Sem a conotação provocativa da época em que fez sucesso com Cláudia, Com Mais de 30 (Marcos e Paulo Sérgio Valle) ressurge radiante em sua bela e afinada voz. No fim, Verônica dá um giro para trás com Assis Valente (Fez Bobagem) e retorna aos dias de hoje em uma inédita parceria de Rubens Figueiredo e Paulo César Pinheiro (Na Volta da Ladeira), de quem também incluiu Bem Feito. Pinheiro também assina a letra de Ahiê para melodia de João Donato. A faixa mais inusitada do repertório é If You Want to Be a Lover, parceria do americano Oscar Brown com o catarinense Luiz Henrique, que foi namorado de Liza Minelli e teve a canção gravada por ela. Seja em andamento mais acelerado ou mais lento, o disco prima pelos arranjos bem suingados. Visando esse resultado foi que ela convocou o produtor e músico BiD, que assinou trabalhos de peso com Chico Science & Nação Zumbi (Afrociberdelia), Marina Lima, Fernanda Abreu e mundo livre s.a., entre outros. Houve quem estranhasse a escolha dele porque Verônica vinha fazendo música de um jeito mais tradicional ao vivo, sem recursos de eletrônica. Só que, como ela confirma, "o trabalho de BiD é muito mais completo do que simplesmente mexer com timbres" e efeitos modernos. "Ele tem essa coisa do groove muito forte, e para mim, desde que comecei a estudar música, isso é prioridade." Verônica estudou na Groove Escola de Música, em São Paulo, dirigida por Levy Miranda. Por ali também passaram cantores e compositores da nova geração bem cotados hoje, como Giana Viscardi, Mariana Aydar, Danilo Moraes, Ricardo Teté, Cris Aflalo. "Se você reparar, são pessoas preocupadas com a concepção do ritmo. Acho que a gente traz dali essa bagagem muito forte do Levy, esse mestre musical que a gente tem." O filho dele, aliás, Marcelo Miranda, ela trouxe para sua banda, além de Cabral, que vão acompanhá-la nos shows de lançamento do CD, nos dias 6 e 7 de março no Tom Jazz, onde ela passou meses animando as gafieiras de domingo. Verônica foi parar na Groove desde que se formou arquiteta, profissão que nunca exerceu. Foi mais além do que Chico Buarque nesse aspecto, que abandonou os estudos dois anos depois de ter entrado na mesma FAU onde Verônica concluiu o curso. "Eu estava muito focada na arquitetura nessa época, mas como sempre tive uma ligação muito forte com a música desde criança, alguma coisa me puxou ali. Comecei a fazer música como hobby, assim como meus pais faziam. Quem me deu força foi o professor Levy, que acreditou na minha musicalidade. Passei então a sentir vontade, quase uma necessidade de cantar." A partir daí ela já pisou no palco dividindo a cena com Beth Carvalho, Moacir Luz, Elton Medeiros, Martinho da Vila e outros bambas. Gravou com o pernambucano Lúcio Maia (da Nação Zumbi) e o mineiro Flávio Henrique e traz para sua música a cultura de "roda na varanda", que tinha na família desde a infância. Entre suas referências de cantoras estão as veteranas Nana Caymmi, Elis Regina, Ella Fitzgerald e até a contemporânea Mayra Andrade, do Cabo Verde. Mal lançou este disco e Verônica já está em estúdio gravando com Chico Saraiva outro álbum de composições inéditas dele com letras de Mauro Aguiar, em que canta em todas as faixas. "Por estar já com isso na cabeça, me permiti não me preocupar em gravar um disco que tivesse canções inéditas ou não. O que gravei tem a ver com o que estava com vontade de dizer", conta. "Minha preocupação era que o disco tivesse músicas coletivas, que falassem do povo, da gente, que não ficasse só no ?eu amo, eu faço?." Não é à toa que abre com Um Sorriso nos Lábios.

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