Collecteurs quer divulgar informações coleções de arte particulares

Collecteurs é um site e plataforma de mídia social que se proclama o Museu Coletivo das Coleções Privadas

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Por Sophie Haigney
Atualização:

A coleção de arte privada de Roberto Toscano e sua mulher, Nadia Toscano-Palon, reúne obras de artistas como Daniel Turner, Anish Kapoor, James Turrell e Oscar Tuazon. Desde 2012, o acervo cresceu para mais de cem peças, em parte guardadas ou sendo restauradas. Como na maioria das coleções privadas, essas obras raramente são vistas por alguém fora do círculo próximo ao casal.  Este é um problema para muitos colecionadores, incluindo os Toscanos, que querem exibir seus acervos para públicos maiores ou acreditam que seja seu dever compartilhar as obras que possuem. Embora colecionadores das altas faixas do mercado estejam abrindo cada vez mais museus particulares, pode ser difícil arcar com os custos ou manter o pessoal necessário para operar tais espaços. Coleções particulares às vezes são tão inacessíveis, disse Toscano, que mesmo os artistas não sabem onde estão algumas de suas obras. Esse é um dos motivos pelos quais Toscano quer tornar públicas informações sobre a localização de obras de arte. “Se eu não as puser em algum banco de dados público, essas obras acabam sumindo do planeta”, disse. 

Evrim and Jessica Oralkan, criadores do Collecteurs, querem compartilhar seu acervo com o público Foto: Rose Marie Cromwell/The New York Times

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Collecteurs é um site e plataforma de mídia social que se proclama o Museu Coletivo das Coleções Privadas. Abrigado no New Museum’s New Inc., uma incubadora cultural, Collecteurs é uma corporação de utilidade pública com a missão declarada de trazer obras de arte à luz – pelo menos, às luzes da internet. Seus fundadores são o casal de colecionadores Jessica e Evrim Oralkan, que acabaram sobrecarregados pelo tamanho de sua própria coleção de arte. Eles lutam para administrar a coleção e compartilhá-la com o público. “Você chega num ponto em que não cabe mais nada nas paredes”, afirmou Oralkan.

Os Oralkans puseram sua coleção pessoal online, a exemplo dos Toscanos e 1.200 outros colecionadores. Qualquer um com um computador pode ver as imagens das obras que eles possuem. Acessá-las e usá-las num nível básico é grátis. Mas os usuários podem associar-se a planos mais completos (um de US$ 15 mensais e outro de US$ 125) que dão acesso a benefícios como ingressos para feiras de arte e a oportunidade de serem entrevistados pelo site editorial da plataforma. 

Além de compartilhar arte, colecionadores buscam ferramentas para conectar-se com galeristas e curadores e, quem sabe, falar sobre o que têm nas paredes. “Colecionadores costumavam ser quase um clube privado de pessoas muito tradicionalistas em sua privacidade e comportamento”, ressaltou Ronald Varney, consultor independente sobre fine art de Nova York. “Mas hoje é comum a pergunta ‘quanta publicidade vou conseguir com isso?’.” 

Colecionadores tentam aproveitar a energia da mídia social sem o burburinho a ela associado, proporcionando uma janela para o quase secreto mundo das coleções privadas. Embora o valor total da arte em poder de particulares seja incalculável, as vendas e leilões de obras de arte vêm crescendo, atingindo US$ 67,4 bilhões em 2018 – muito disso passando por mãos privadas. Varney chamou o mundo das coleções particulares de “universo nebuloso”, uma vez que vendas privadas não são notificadas e casas de leilão não são obrigadas a divulgar os nomes de seus clientes. 

“Uma obra de um famoso artista contemporâneo foi vendida num grande leilão da Christie’s há alguns anos e a venda ganhou destaque no noticiário”, recordou Varney. “Após ser vendida, a peça foi listada como ‘desaparecida’ no site do artista. A obra simplesmente desapareceu numa coleção privada.”

Por sua própria natureza, Collecteurs tem uma óbvia limitação: as obras só podem ser vistas online. “Não é qualquer um que tem dinheiro para abrir um museu particular”, garantiu Oralkan. “Então as pessoas procuram opções alternativas, e essas muito provavelmente serão digitais.”

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O conceito de museu digital não é realmente novo. Muitos museus há muito digitalizaram suas coleções e qualquer um com acesso à internet pode pesquisar suas imagens. Mas quando é que algo passa de uma coleção de imagens online para um museu online, e Collecteurs está habilitado para isso?

“Não é realmente um museu, por mais que se amplie a definição”, disse Claire Bishop, professora de história da arte do Centro de Graduação da Universidade da Cidade de Nova York, que pesquisou e escreveu sobre os efeitos da tecnologia digital na arte visual. Para ela, a falta de ênfase na pesquisa, a precariedade de informações contextuais sobre os objetos e a ausência de curadoria extensiva fazem de Collecteurs mais uma rede social que um museu. 

“Se a definição mínima de museu digital for uma coleção de imagens online reduzidas, então um arquivo como o Artstor é o maior museu digital do mundo”, avaliou Bishop, referindo-se a uma biblioteca digital de imagens sem fins lucrativos que reuniu milhões de imagens para estudantes. O uso da palavra museu, segundo ela, é equivocado e representa mal os objetivos do projeto. 

“Temos uma chance de recriar a ideia de como um museu pode ser”, analisa Oralkan. “Entre não ser visto e ser visto digitalmente, o digital ganha força.” Mas nem todo mundo está interessado em mostrar o que tem em cofres e paredes. “Estamos lidando com figuras que não querem chamar a atenção para sua riqueza e fazem questão de que ninguém chegue a elas”, acrescentou Justin Anthony, um dos fundadores da empresa Artwork Archive, baseada em Denver. / TRADUÇÃO ROBERTO MUNIZ 

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