Um turbilhão de emoções. É assim que se apresenta ao público a exposição de Chiharu Shiota, Linhas da Vida, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo. A mostra, que teve início na última quarta-feira, 13, é uma mistura de obras inéditas e retrospectiva dos trabalhos mais marcantes da artista japonesa. Ao todo, 70 peças estão expostas ao público.
Quem visitar a exposição vai se surpreender, logo à primeira vista, com a gigante Além da Memória, instalação que Chiharu fez exclusivamente para o CCBB. A obra, que soma 13 metros, foi feita com 800 rolos de lã – mais de 4 mil metros de linha branca. Seu formato, que se assemelha a uma enorme teia, é adornado por folhas de sulfite em branco, cuidadosamente grampeadas. Ao todo, a instalação ocupa três andares do centro cultural.
“A ideia de Chiharu é que o público seja absorvido por essa grande trama e que, por meio dela, consiga visualizar a si mesmo e fazer uma viagem em suas memórias”, explica Tereza de Arruda, curadora da obra e, de certa forma, amiga íntima da artista. Ambas moram em Berlim, e Tereza visita com frequência o ateliê de Chiharu. Nos últimos dez anos, ela já organizou outras exposições da artista em São Paulo e na Alemanha.
Além da instalação, outras obras de Chiharu também estão expostas ao público, que poderá acompanhar momentos importantes de sua carreira como artista. É o caso da série Se Transformando em Pintura, de 1994, em que ela ‘banhou’ o próprio corpo com uma tinta tóxica.
A artista, que tem formação em pintura clássica, não se restringe apenas à tela para criar seu trabalho. “Ela sabia que o suporte tradicional não era o suficiente para a sua criação artística, o que a fez buscar outros caminhos”, explica Tereza.
No entanto, é interessante destacar que a simplicidade e a tradicionalidade da criação manual são características presentes em seu modo de fazer arte.
Nesse processo de experimentação, alguns detalhes passaram a se destacar em suas criações, como o uso das cores (quase sempre o branco, o preto e, majoritariamente, o vermelho), o constante uso de chaves (como na instalação A Chave na Mão, do Festival de Veneza em 2015) e os barcos, que, conforme explica Tereza, “não representam um caminho, mas, sim, duas mãos unidas em um ato simples de bondade, doação e generosidade”.
Tudo isso faz de Chiharu uma artista singular, que muito mais interessada pelo universo das emoções e das relações humanas, se abstém de fazer discussões políticas em suas obras.
“Quero que as pessoas se sintam livres para sentir o que elas quiserem, quero despertar suas emoções. O significado é aberto, para que cada um vivencie intimamente da forma que interpretar melhor”, diz, aos sussurros, uma tímida Chiharu, quando questionada sobre o que queria causar com suas obras. Ao público, fica o convite para viajar pelo mundo do autoconhecimento.
SERVIÇO
LINHAS DA VIDA
CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL
RUA ÁLVARES PENTEADO, 112 - CENTRO
4ª A 2ª, DAS 9H ÀS 21H
ENTRADA GRATUITA
ATÉ 27/01