Cerâmicas reproduzem criatividade de Paulo Mendes da Rocha e Ruy Otake

Lançadas na Expo Revestir 2022, as peças foram um dos últimos trabalhos realizados pelos arquitetos

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Por Marcelo Gomes Lima
Atualização:

Dos interiores às fachadas, a cerâmica vem adquirindo um papel cada vez mais relevante na arquitetura. E razões não faltam para isso. Com um desempenho superior quando comparado a outros revestimentos– tanto em termos de redução do impacto ambiental, quanto de eficiência energética –, em relação aos acabamentos sua performance também não deixa nada a desejar. Do concreto ao metal, hoje é possível dotar o material de praticamente qualquer tipo de textura.  Além disso, atualmente é possível revestir superfícies inteiras com placas de grandes dimensões e espessura reduzida, que, uma vez aplicadas dentro das especificações de seus produtores, não apresentam maiores riscos de trincas ou ruptura. Em síntese, uma matéria-prima com características únicas, capaz de produzir um efeito de plena continuidade visual, que em dois projetos recentes foi revisitada por dois grandes nomes da arquitetura nacional: Paulo Mendes da Rocha e Ruy Ohtake

Paulo Mendes da Rocha e a filha, Nadezhda Mendes da Rocha, durantea criação do Projeto Monumento. Foto: Pablo Saborido

“Para além da função construtiva, foi interessante observar como eles olharam para a cerâmica a partir de uma nova perspectiva. Diria como um meio de expressão”, observa Eduardo Scoz, gerente de Branding da Portobello, fabricante cerâmico sediado em Tijucas, Santa Catarina, que acompanhou todas as etapas de produção de duas linhas inéditas de revestimentos que levam a assinatura dos dois arquitetos modernistas, mortos no ano passado. Peças que vieram a se constituir em um dos últimos trabalhos realizados pelos arquitetos, produzidas em porcelanato – variedade cerâmica que utiliza matérias-primas nobres na sua composição, apresentando baixa absorção de água e alta durabilidade – e também em material cimentício, que serão lançadas pela marca nesta terça feira, 8, na Expo Revestir, a maior feira brasileira do setor, que ocupa o Transamérica Expocenter até o próximo dia 11.

Ruy Ohtake e suas mesas de porcelana. Foto: Fernando Willadino

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Data de 2020, o início da colaboração do arquiteto, urbanista, professor e ganhador do Prêmio Pritzker de Arquitetura 2006, Paulo Mendes da Rocha com a Portobello. Convidado para participar da Mostra Unlimited, que explorava as possibilidades de uso das lastras – superfícies de porcelanato de grande formato –, o arquiteto surpreendeu, ao desenvolver com a filha, a arquiteta e designer Nadezhda Mendes da Rocha, um monumento em homenagem ao material, que, desde então, permanece implantado no pátio industrial da marca. Como ponto de partida, a ideia de exibir as lastras como uma ilustração de como, de fato, elas viriam a aparecer na cidade. Principalmente como planos de grande visibilidade, nas fachadas dos edifícios. Em várias disposições imprevisíveis em relação à luz do sol, e ainda em diferentes horários do dia. “O conjunto tem uma visão teatral e dinâmica. O que fizemos foi colocar as lastras, que são belíssimas, ora na vertical, ora na horizontal, sempre de modo ortogonal ao piso, como espera-se que elas sejam dispostas na arquitetura”, conforme pontuou Mendes da Rocha à época. A partir de então, a convite da marca, a dupla deu início ao desenvolvimento de uma nova linha de porcelanatos e o resultado tomou forma na coleção Soma, concluída no início deste ano, que traz a reprodução do concreto em peças lisas e estampadas, no formato de 80x80cm. Na prática, um conjunto de maxi ladrilhos, nas cores verde (Natural), terracota (Terra) e cinza (Concreto), que podem ser livremente combinados na formação de desenhos variados. Ou, uma vez ripados, podem possibilitar a composição de mosaicos, a partir de tiras de 30X80cm.   

Comum à arquitetura de Paulo, as linhas geométricas, a integração com a natureza e o concreto se fazem igualmente presentes. Ao lado do pai em todo o processo, a filha Nadezhda colaborou com a inserção de cores na coleção, já que o arquiteto tinha como preferência o preto e o branco. “Ele nos encantou por sua dedicação e nível de exigência. A mesma que ele aplicava ao desenvolvimento de seus projetos de arquitetura”, afirma Pamela Golin, gerente de produto da Portobello.

Linha Soulde revestimentos, desenhado por Ruy Ohtake para a Portobello. Foto: Guto Campos

Outro parceiro de longa data da Portobello, Ruy Ohtake já havia colaborado na criação de uma linha de revestimento para a marca, além de ter assinado os primeiros móveis de porcelanato produzidos pela empresa. Na nova coleção, a cor, elemento indissociável da obra do arquiteto – que assina, entre outros, os projetos do Instituto, que  leva o nome de sua mãe, a pintora Tomie Ohtake, e o Hotel Unique, ambos em São Paulo –, ganha enfoques diferentes, mas complementares. “Ohtake nos motivou a criar algo além do comum, do tradicional. Quando dizíamos que não era possível materializar tal situação, a reação era imediata: Por que não?”, lembra Pamela, citando como exemplo a linha Soul: Peças cimentícias curvas, produzidas em cinco cores vibrantes (amarelo, azul, branco, cinza e vermelho), além de dois modelos para parede, no formato 30X120cm. Um recurso ornamental que, desafiando as possibilidades do material, se apresenta como um par de ondas que toca a parede em apenas dois pontos.

Já o segmento Oh!Take – composto por placas de porcelanato em sete opções de cores, nos formatos de 120x120cm e 120x270cm, sendo que três delas também estão disponíveis no formato de 160x160cm –, o colorido aparece combinado ao concreto, mas, desta vez, por meio de tonalidades atemporais, suaves, com efeito lavado. Sobre o uso da cor, Pamela recorda bem as recomendações do arquiteto. “Coloque cor onde tem pouca luz. Onde tem bastante, deixa a cor da natureza”, relembra ela. 

Assim como Paulo Mendes, Ruy não conheceu o resultado final da coleção, embora tenha participado da maior parte do seu processo de desenvolvimento. Coube a seu filho, o também arquiteto Rodrigo Ohtake, a tarefa de credenciar, com grande emoção, os protótipos finais, reconhecendo neles, enfim, o traço inconfundível do mestre.

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