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Centésimo número da Granta reúne os melhores

Organizado pelo escocês William Boyd, ele traz Ian McEwan, Harold Pinter e outros grandes autores

Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

A edição brasileira de número 3 da Granta (Alfaguara, 360 págs., R$ 39,90) reproduz, com exceção da capa de David Hockney, o conteúdo do centésimo número da prestigiada revista literária inglesa, fundada em 1889 por estudantes da Universidade de Cambridge. Agonizante nos anos 1970, a Granta foi ressuscitada nos anos 1980, quando passou ao formato pelo qual hoje é conhecida, o de uma publicação essencialmente dedicada a farejar novos autores. A capa inglesa do centésimo número não foi usada - e isso não tem nada a ver com Hockney, mas com o fato de fazer referência ao número 100. Na versão brasileira, a capa ganhou uma obra do escultor carioca Ângelo Venosa. De resto, é a mesma revista organizada pelo escritor William Boyd. Convidado a selecionar escritores que já publicaram seus textos na Granta, reuniu alguns dos melhores autores contemporâneos, entre eles Doris Lessing e Harold Pinter (ambos premiados com o Nobel) e o inglês Ian McEwan, que apresenta o libreto da ópera Por Você, composta por Michael Berkeley (ela estreou em maio do ano passado). Ian McEwan, aliás, foi uma das apostas que a Granta fez em 1983, quando publicou sua primeira lista de 20 jovens escritores britânicos em que os leitores deveriam prestar atenção. Só para citar alguns, a lista contemplava ainda Martin Amis , William Boyd , Kazuo Ishiguro e Salman Rushdie. Dez anos depois, a lista ganhou os nomes de Hanif Kureishi, Alan Hollinghurst e Jeanette Winterson, todos publicados no Brasil. Finalmente, há cinco anos, foram selecionados, entre outros, Monica Ali, Zadie Smith e Adam Thirlwell, também publicados por aqui. A lista da Granta faz tanto sucesso que ela repetiu por duas vezes (em 1996 e 2007), o ranking dos melhores nos EUA. Jonathan Franzen e o casal Jonathan Safran Foer e Nicole Krauss estavam entre essas apostas. O escocês William Boyd (Fuga, As Aventuras de um Coração Humano), além de organizador deste número Granta, é um iconoclasta. Diz que jamais gostou do nome Granta e que, inicialmente, achou péssima a ideia do americano Bill Buford de ressuscitá-la. Conclusão: perdeu o número 1 e não sossegou enquanto não conseguiu encontrar o raro exemplar. Boyd foi protagonista de um episódio engraçado do mundo editorial. Há dez anos publicou Nat Tate: An American Artist 1928-1960, falsa biografia de um desconhecido artista do expressionismo abstrato que teria se matado após uma visita ao ateliê de Braque. Nat Tate nunca existiu. É fruto da aglutinação da palavra National (National Art Gallery) com Tate (Gallery), piada que pegou alguns críticos na contramão, todos "especialistas" na obra de Nat Tate. Para o centésimo número da revista, Boyd não fez nenhuma brincadeira do gênero. Quase todos os autores (à e exceção dos poetas) já foram publicados pela Granta. A atenção especial à poesia foi um ato deliberado: ela esteve ausente nos primeiros números da edição inglesa. Em contrapartida, até o dramaturgo Harold Pinter, morto em dezembro, comparece com um poema para a amada.

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