CD Balangandãs, de Ná, mantém a graça do show

Tributo a Carmen tem clássicos em arranjos e interpretações revitalizantes

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Por Lauro Lisboa Garcia
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Um dos melhores shows de música brasileira de 2008 chega, enfim, ao CD. Porém, não se trata de mais um registro de show. A cantora Ná Ozzetti optou por gravar Balangandãs (Ná Records/MCD) em estúdio. De resto, o álbum é fiel ao que Ná apresentou com muita propriedade no palco. O CD, aliás, se beneficia muito desse processo inverso ao lugar-comum do mercado. Desenvolvido durante meses, o show contou com músicos integrados entre si e afinados com o estilo da cantora. Dante Ozzetti (violão), Mário Manga (guitarra, violoncelo e violão), Sérgio Reze (bateria) e Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo) criaram os arranjos em conjunto e também produziram o CD com Ná e Alberto Ranellucci. Não é por acaso que as canções fluem com naturalidade. Como se comprovou ao vivo, Ná não faz caricatura da homenageada Carmen Miranda (1909- 1955). Suas interpretações são revitalizantes, têm personalidade própria, preservando referências dos originais. Os arranjos trazem um frescor contemporâneo a clássicos do samba, do choro, da marcha e de outros gêneros que Carmen cantou. Como o show, o CD abre com Imperador do Samba (Waldemar Silva), que andava bem esquecida, e encerra com Adeus Batucada (Synval Silva), que Ná já tinha gravado. Outros compositores dos mais importantes do tempo de Carmen, muitos dos quais se projetaram por causa das gravações da cantora, estão presentes no repertório do CD: Dorival Caymmi (A Preta do Acarajé), Assis Valente (Camisa Listada, Recenseamento, ...E o Mundo Não se Acabou), Zequinha de Abreu (Tico-Tico no Fubá), João de Barro e Alberto Ribeiro (Touradas em Madri), Vicente Paiva (Diz Que Tem, Disseram Que Eu Voltei Americanizada, esta com Luiz Peixoto, que compôs Na Batucada da Vida com Ary Barroso). As nuances de interpretação de Ná em cada canção, a forma como valoriza melodias, harmonias e letras de cada uma delas são atestados de sua minuciosa abordagem do legado de Carmen. Como se sabe, o estilo contido de uma contrasta com a exuberância de outra. Não é de hoje que Ná lida muito bem com essas diferenças. Já na virada dos anos 1970 para os 80, pesquisando repertório antigo como o Grupo Rumo, notou que nenhuma canção passava por Carmen "sem que colocasse alguma graça, de forma muito natural, aproveitando o que já era oferecido pela própria canção". Nesse ponto, Ná - que tem como Carmen entre suas referências de intérprete há décadas - não é diferente e conta com a "cumplicidade" dos músicos. Só faltou no CD a brejeirice de Boneca de Pixe (Ary Barroso/Luiz Iglesias), que Ná canta há anos no palco. "Aquilo é uma brincadeira que só tem graça no show", justifica ela. Resta esperar o DVD.

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