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'Casa-galeria': Aura expõe seu acervo em apartamento na região central de São Paulo

Galerista Bruna Bailune decidiu mudar de endereço residencial e levar acervo da galeria para ser exposto em seu novo apartamento

Por Júlia Corrêa
Atualização:

A pandemia representou um verdadeiro desafio comercial para muitas galerias de arte. Não foi diferente para a Aura, fundada há cinco anos como uma plataforma online de mapeamento e divulgação de artistas, embora se possa dizer que a sorte tenha favorecido as suas atividades nesse período. Preparada para o ambiente virtual, não precisou passar por grandes adaptações como outras instituições mais tradicionais. Enquanto galeristas perdiam energias em torno de cancelamentos de feiras, a arquiteta carioca Bruna Bailune, uma das sócias da Aura, agradecia por não tê-la inscrito em nenhum grande evento presencial, como a SP-Arte. A sorte também ajudou em um aspecto ainda mais fundamental: a definição de uma nova sede para a galeria – ou, como é possível chamá-la agora, “casa-galeria”.

Galerista.Em meio à pandemia, Bruna decidiu mudar de endereço e levar acervo da galeria para o seu novo apartamento. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Desde 2017, a Aura ocupava um imóvel na Vila Madalena. Era um ponto promissor, próximo de outros nomes fortes da área, como a Millan. Após três anos, no entanto, o local mostrou-se inadequado, com uma infraestrutura muito antiga, e o staff da galeria mobilizou-se para encontrar um novo espaço para as suas atividades. Durante a procura, as obras ficaram abrigadas em um depósito na Lapa e, quando os sócios da Aura estavam prestes a assinar um contrato de aluguel de um imóvel na região dos Jardins, foram surpreendidos pela notícia do avanço do coronavírus. “Esse aluguel ia multiplicar por cinco os nossos custos; eu estava apavorada, pois ali eu visualizava algo que só imagino ter daqui a uns dez anos”, lembra Bruna, aos risos, aliviada por a pandemia ter impedido que o acordo fosse adiante.

No momento de maior confinamento, Bruna viu-se insatisfeita com seu próprio lar, um apartamento pouco iluminado na Vila Madalena. “Ninguém sabia quanto tempo aquilo ia durar. Decidi me mudar, pois achava que ia enlouquecer ali. Então falei com o Edoardo Biancheri, um dos meus sócios, e sugeri alugar um apartamento grande para onde eu pudesse levar a galeria comigo”, relata ela, que teve o aval imediato do parceiro.

Novo espaço. Foi na Alameda Barros, no bairro de Santa Cecília, que Bruna encontrou o ambiente ideal. “Quando eu entrei, pensei: ‘isso é uma galeria pronta’. Não precisava de praticamente nada. É uma cobertura de um andar inteiro, já reformada. A proprietária abriu as paredes, fez estruturas de concreto... Eu só trouxe os móveis, porque já tinha até iluminação", conta a galerista.

Cobertura.Em espaço amplo e arejado, galeria exibe obras de nomes como Matheus Chiaratti. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Assim, quem entra no novo espaço da Aura encontra obras integradas ao ambiente do lar – do hall de entrada, passando pela sala até o amplo terraço do apartamento. “Na semana seguinte à mudança, em julho, eu já estava recebendo clientes. Ainda não tenho coragem por causa da pandemia, mas espero poder fazer jantares aqui com artistas e colecionadores; é um espaço ótimo para isso”, diz Bruna, que acredita que essa forma de expor o acervo pode ajudar o comprador a se sentir mais à vontade do que no tradicional ambiente minimalista das galerias e a entender como uma obra ficará na sua própria casa, considerando noções de escala.

Sobre os limites entre a vida privada e profissional, que agora dividem o mesmo ambiente, Bruna explica que o gosto pela atividade e pela interação com as pessoas torna tudo mais fácil, embora reserve o turno da manhã para realizar suas atividades pessoais e só receba visitas mediante agendamento.

As obras exibidas no apartamento ganham novas disposições de acordo com a agenda da galeria. Após a SP-Arte ter cancelado suas atividades presenciais por causa da pandemia e migrado para o ambiente virtual, a Aura decidiu participar da edição. Pensando nisso, por exemplo, a equipe da galeria escolheu uma parede do apartamento para fazer uma montagem especial, registrada em vídeo. De acordo com Bruna, foram vendidas mais obras neste formato do que quando participaram da feira física no ano passado – e tudo isso com um investimento muito menor.

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Recepção.Na visão de Bruna, comprador poderá imaginar como a obra ficara em sua própria casa. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A mudança para o apartamento ocorreu no final de junho, e coincidiu com a inauguração de um projeto no qual Bruna envolveu-se intensamente: a P.art.ilha, ação online entre galerias de pequeno e médio porte que se mobilizaram para resistir às dificuldades impostas pela pandemia. “Para nós, foi o pulo do gato. Estávamos em um mês de desespero, achando que íamos falir. No primeiro dia, o telefone tocou sem parar, vendemos horrores”, relembra ela. Na visão da galerista, essas reformulações do mercado de arte vêm ajudando na mudança da mentalidade do público, que passou a confiar mais nas operações online. “É uma questão de a galeria dar um jeito de atender. Na Aura, a gente combina que, se o comprador não gostar da obra, pode ficar com o crédito para comprar outra do mesmo artista no tempo que for”.

Aposta online. Nesse sentido, o êxito da Aura nos últimos meses (o atual balanço indica que 2020 terminará como o ano de maior vendas desde sua inauguração) foi favorecido pela habilidade prévia da galeria com o ambiente virtual. “Eu sou muito do online; isso cortou caminho para não ficarmos testando, enquanto muita gente gastava dinheiro com ferramentas caríssimas. Já tínhamos testado isso no passado e sabíamos o que dava e o que não dava certo. Quando a pandemia começou, eu pensei: ‘vou é falar com as pessoas, me comunicar e debater os problemas que a gente identifica no sistema artístico’”, explica Bruna. Assim, além de ter sido uma das idealizadoras da P.art.ilha., a galerista apostou na promoção de cursos online e de reuniões semanais pelo Zoom, no que ficou apelidado de “Happy Aura”. São atividades que, segundo ela, alcançam um público jovem que tem potencial para comprar as obras, mas que não o faz por falta de familiaridade com o mercado.

Acervo.Disposição das obras varia de acordo com agenda de eventos da Aura. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A forte ligação com o meio online também justifica a atual preocupação da Aura em recuperar o número de seguidores perdidos após ter sua conta do Instagram hackeada por um golpe virtual. “Foi um impacto porque o Instagram é o nosso principal canal de divulgação. Tínhamos 25 mil seguidores, com um bom engajamento”, conta Bruna, relembrando o apoio que recebeu de outras galerias na divulgação da nova conta que precisaram criar (no momento, são cerca de 3.500 seguidores).

Para 2021, a Aura também mira as apostas em seu novo site (galeriaaura.com), que acaba de ser lançado, e também em um projeto inédito com a Artsy (plataforma online internacional), que promoverá diálogos entre artistas, com foco na internacionalização da galeria. Existe ainda um projeto embrionário entre os sócios de inaugurar, a partir de um desmembramento da Aura, uma nova galeria com um programa curatorial mais definido.

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