Carmela Gross exibe antologia na Chácara Lane e remonta obra na Capela do Morumbi

'Arte à Mão Armada', no espaço do Museu da Cidade, recria o luminoso 'Eu Sou Dolores' e traz o inédito 'Escada-Escola'

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Por Camila Molina
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A Chácara Lane, na Rua da Consolação, evoca uma série de ideias para Carmela Gross. “Esse espaço, por si só, tem uma característica encantadora”, resume. Pensar em uma chácara; pensar, mais ainda, que exista uma chácara no centro de São Paulo, é como um “sonho”, “de Cinderela”, ela define – entretanto, de que adianta esse sonho, desconectado da cidade?

A artista Carmela Gross e o néon 'Us Cara Fugiu Correndo' (2000-2001) na ChácaraLane Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

É um “gesto simbólico” da artista, mas que diz muito, criar a Escada-Escola, obra que liga, literalmente, a “casa onírica”, pertencente ao Museu da Cidade, e a Escola Municipal Gabriel Prestes, separada da Chácara Lane por uma grade. Ou, ainda, escrever (mais uma vez) a afirmação Eu Sou Dolores em um luminoso de 19 metros que atravessa uma das salas “com resíduos de pinturas florais no teto” e sai para fora da janela – a parte “Eu Sou” pode ser vista da rua. “Traço de união, ou quem sabe, disjunção entre o pessoal e o plural, o de dentro travestido no de fora, o menor no maior possível”, afirma Carmela Gross em texto de 1999 quando ainda projetava o painel de lâmpadas vermelhas apresentado, em 2002, no Arte/Cidade 4, na zona leste, e que integra a coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Vista do luminoso 'Eu Sou Dolores', de Carmela Gross Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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"Não precisamos de mais espaços para expor artistas, o que a gente precisa é de escola”, diz Carmela Gross, que, ao ser convidada pelo curador Douglas de Freitas para realizar uma antologia de 50 anos de sua produção artística na Chácara Lane, não hesitou em propor uma poderosa questão por meio de um trabalho novo e inédito – a Escada-Escola, de 2016.

Na verdade, a escada é um signo de muito tempo na obra de Carmela Gross, de 70 anos. Na exposição Arte à Mão Armada, em cartaz até 8 de janeiro de 2017 no espaço do Museu da Cidade de São Paulo – e que também se estende para a Capela do Morumbi, onde foi remontada instalação que a artista exibiu em 1992 no local –, a peça mais antiga é uma fotografia histórica de 1968 que registra o desenho (como uma pichação, ela diz) de degraus feitos com tinta preta sobre um terreno na Avenida Giovanni Gronchi, na zona sul.

“A ideia da Escada-Escola surge para tirar o muro-grade que separa os dois espaços e pensar a arte-educação em um novo sistema integrado, de outro ordem”, explica. “É claro que isso não competia ao âmbito dessa exposição, é um processo amplo, histórico, muito mais complexo do que um simples desejo do artista”, completa a paulistana, que também acaba de realizar uma mostra individual na Galeria Vermelho.

Desde 1972, Carmela é professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. “Ninguém cuida da educação; não interessa cuidar da educação porque aí você tira o protagonismo daquele que pode ser ou um doador magnânimo, que dá presentes de um modo populista, ou o sujeito que manipula o sistema para continuar sempre com o mesmo conjunto de pessoas no topo político e fazendo para eles mesmos e não para o povo.”

A obra 'Feche a Porta', de 1997, em 'Arte à Mão Armada' Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

É importante dizer, portanto, que a exposição Arte à Mão Armada, título de um trabalho criado em 2009, não se trata de ser um olhar retrospectivo para sua obra – e vale destacar que reproduções das pastas com todos os seus projetos podem ser consultadas pelos visitantes. “A ideia é resgatar o trabalho do artista como uma sequência de pensamento, que não surge de uma inspiração fugaz ou de um desejo narcísico”, afirma Carmela Gross, sempre atenta à essencial relação do pensamento artístico com o mundo.

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CARMELA GROSS Chácara Lane. Rua da Consolação, 1.024, tel. 3129-3574. 3ª a dom., 9h/17h. Grátis. Até 8/1/2017 Capela do Morumbi. Av. Morumbi, 5.387, tel. 3772-4301. 3ª a dom., 9h/17h. Grátis. Até 5/3/2017

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