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Canções, por Mahler e autores brasileiros

Amantes do gênero têm duas boas opções: A Canção da Terra, na Sala São Paulo, e parcerias nacionais no Sesc Pinheiros

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Por João Luiz Sampaio
Atualização:

O fã de canções de arte costuma ser deixado de lado pelos programadores de teatros, é verdade. Mas, hoje, tem duas boas opções de espetáculo - e o problema vai ser optar por uma delas. Na Sala São Paulo, a Filarmônica de São Bernardo apresenta, com entrada franca, o ciclo A Canção da Terra, de Gustav Mahler; e, no Sesc Pinheiros, a soprano Adélia Issa e o pianista Ricardo Ballestero interpretam uma seleção de canções de autores brasileiros. Sob o rótulo de ''canções'' escondem-se diferenças fundamentais entre as duas atrações. A Canção da Terra é, para muitos, a síntese da obra de Mahler, tocando em questões - a morte, a esperança, o desencanto - que se fazem presente em toda a sua produção e ganham formato sem precedentes nas seis canções que compõem o ciclo, que se encerra com a monumental Despedida, de cerca de 30 minutos, uma das mais impressionantes investigações musicais sobre a alma humana e seus conflitos. Já o programa que Adélia e Ballestero apresentam no Sesc Pinheiros é uma síntese dupla - de um lado, é fruto dos anos de pesquisa dos dois intérpretes; de outro, um passeio pela apropriação que compositores brasileiros fizeram da canção, sempre a partir de textos de grandes poetas brasileiros - entre as parcerias recriadas pela dupla estão Villa-Lobos/ Ronald de Carvalho, Camargo Guarnieri/ Mário de Andrade, Francisco Mignone/ Manuel Bandeira e Cláudio Santoro/ Vinicius de Moraes. ''As canções são fundamentais dentro do panorama da composição musical brasileira. Desde Carlos Gomes, no século 19, até os dias de hoje, a canção de câmara brasileira tem presença privilegiada na produção de nossos mais importantes compositores'', explica Adélia que, em agosto, volta ao palco, ao lado de Ballestero, para mais dois recitais dedicados a canções - no dia 12, no Teatro São Pedro, canta Música, de Gilberto Mendes, Cinco Poemas de Anna Akhmátova Op. 27, de Prokofiev, e Akhmátovoi, de Shostakovich; e, no dia 23, no Espaço Cultural CPFL, em Campinas, interpreta ciclos do compositor norte-americano Leonard Bernstein. A regência do Mahler está a cargo do maestro Carlos Moreno, também diretor da Sinfônica da USP; os solistas são o tenor Fernando Portari e o barítono Rodrigo Esteves - o grupo gravou a peça no início do ano para o selo Algol (e quem for ao concerto vai ganhar um cupom de desconto que poderá ser utilizado mais tarde na compra do disco). A versão utilizada é a preparada por Schoenberg que, no início do século 20, criou uma sociedade de concertos em que grandes obras eram apresentadas em versão de câmara. A Sociedade Schoenberg, como ficou conhecida, reuniu a nata da juventude da época, nomes como Anton Webern e Alban Berg, que ajudariam a definir a produção musical do século 20, e outros menos conhecidos, como o polonês Edward Steuermann, compositor, pianista e professor de Theodor Adorno. Foram realizados 117 concertos, com um total de 154 obras executadas, datadas de Mahler em diante. A obra de Mahler, aliás, foi uma das que mais freqüentaram os programas da associação. ''É incrível perceber os efeitos conseguidos por Schoenberg na sua redução da Canção da Terra'', diz Moreno. ''Ele liberta a expressividade da música, mantém sua essência e a leva para frente do tempo de Mahler, que a escreveu em 1907.'' O resultado é impressionante. O enorme efetivo orquestral original de Mahler, mais de uma centena de músicos, se transforma em um conjunto de câmara - e a transparência do som nos oferece um olhar totalmente novo à clareza das linhas e texturas imaginadas pelo compositor. Serviço Orquestra Filarmônica de São Bernardo do Campo. Sala São Paulo (1.484 lug.). Pça. Júlio Prestes, s/n.º, 3223-3966. Hoje, 21 h. Grátis Grandes Poetas, Grandes Canções. Sesc Pinheiros - Auditório (100 lug.). R. Paes Leme, 195, 3095-9400. Hoje, 20h30. R$ 8

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