O pedido de autoridades da China à Itália para que se cancele uma exposição com obras de um conhecido dissidente chinês, desencadeou comoção na península e a negativa dos organizadores.
"Para nós, a arte e a liberdade de expressão são uma mistura essencial", escreveu no Twitter Laura Castelletti, a vice-prefeita da cidade nortista de Brescia, após confirmar a celebração da exposição no mês que vem.
O caso foi denunciado pelo jornal local Il Giornale di Brescia, que publica uma carta da embaixada chinesa na Itália dirigia à prefeitura do local em que lamenta que se incluam obras do artista Badiucao em uma exposição, que estariam "cheias de mentiras anti China".
Segundo a embaixada, essas obras "distorcem os feitos e difundem informação falsa", enganam o público italiano e "põem em perigo as relações de amizade entre China e Itália".
Na carta, a China expressa seu "profundo desconcentamento" e pede à prefeitura "que atue rapidamente para cancelar" a exposição. Contatada pela AFP, a assessoria de imprensa da embaixada da China em Roma não respondeu.
Badiucao, que vive na Austrália, se apresenta nas redes sociais como "um artista sino-australiano perseguido pelo PCC [Partido Comunista Chinês]".
Segundo o jornal italiano La Repubblica, algumas das obras expostas fazem referência à censura imposta sobre a pandemia de covid-19, à opressão contra a minoria muçulmana uigur e aos protestos a favor da democracia em Hong Kong, todos temas sensíveis para as autoridades chinesas.
A China está cada vez mais atenta à divulgação de sua cultura e história e não tem dúvida em interferir em outros países para impor sua própria visão.
Em outubro de 2020, o museu de história de Nantes, no oeste da França, programou em colaboração com a China uma exposição dedicada à história de Gengis Khan e o império mongol, mas teve que suspendê-la por pressões de Pequim, que pediu pela eliminação de expressões como as palavras Gengis Khan, "império" e "mongol" da exposição.