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Bomb the Bass tropeça na teoria evolucionista

Grupo faz apresentação maçante, com base na eletrônica old school, mas sem forçar limites e avançarao futuro

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

O Bomb the Bass tinha quatro laptops sobre a mesa, quatro artistas no suporte (o mentor Tim Simenon, o vocalista Paul Conboy, o DJ Claudio Spoletini e o VJ Valerio Spoletini), além do som de um minimoog e microfone. Mas seu conceito sonoro não precisava de tanto: maçante, óbvio, é no rescaldo apenas um pop coalhado de clichês. Aphex Twin, por exemplo, faz uma baita revolução apenas com um computadorzinho. Tecnologia é bacana, mas funciona melhor com idéias. O combo britânico pretende fazer "música eletrônica com alma", como diz Simenon. OK, é uma proposição saudável. Simenon iniciou seu trabalho nos anos 1990, é um pioneiro da eletrônica e tem hits que fazem o público vibrar, como Beat Dis e Megablast. Também foi produtor de hits memoráveis do pop, como Buffalo Stance, de Neneh Cherry, e Crazy, do cantor Seal. Mas parece ter sido um tanto quanto atropelado pelo princípio do evolucionismo - os animais que não se adaptam aos novos tempos correm o risco de desaparecer. A evolução da eletrônica é vertiginosa, e sua música muito presa à old school soa meio passada hoje em dia. O grupo fez o primeiro show internacional do Nokia Trends, por volta da meia-noite (nota 10 para a pontualidade dos shows). Logo de cara, apresentou músicas de seu disco mais recente, Future Chaos, como Burn the Bunker e So Special, mas a mistura entre lírico (com clara influência de trilhas sonoras, especialmente Morricone) e batidão não empolgava. O disco é mais climático, talvez por conta das participações de artistas como Mark Lanegan, Fujiya & Miyagi e Jon Spencer. Simenon tem boa mão com parcerias (remixou e produziu músicas para David Bowie, Depeche Mode, U2, Curve). Falta reencontrar seu caminho na nova era. Só tinha uma coisa muito bacana: no velho Cine Marrocos, edifício que resiste no centrão carregando consigo um resto de glamour dos anos 1950, o espetáculo visual ficava mais instigante. Signos da era pré-digital, barras de cores das fita dos já antigos videocassetes, um bombardeio de imagens lunares no telão e o clima encorpava. Era a moldura maluca de um quadro acadêmico.

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