Biografia traz história e obra de autor produtivo e referencial

Autor de livro sobre sambista Nei Lopes, Oswaldo Faustino diz que mais de 300 termos do dicionário Houaiss citam compositor

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Por Lucas Nobile
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Descuidados com a história da música popular do País afirmam que a união entre refinamento e despojamento no samba foi enterrada com Mário Reis, em 1981. Os mais radicais defendem ainda que tal combinação deixou de existir quando o cantor decidiu trocar os palcos aos 28 anos, em 1936, por um cargo no gabinete da prefeitura do Distrito Federal. Injustiças como essas ignoram que ainda hoje o compositor e cantor Nei Lopes, que terá sua biografia lançada em setembro, é a personificação do último sambista ao mesmo tempo malandro e intelectual. Nei Lopes, cujo lançamento está marcado para o próximo dia 10, na 14ª edição da Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, foi escrito pelo jornalista Oswaldo Faustino e faz parte da coleção Retratos do Brasil Negro (Selo Negro Edições - Grupo Editorial Summus, 120 págs. R$ 19,90). "O livro é mais um perfil biográfico. Como o próprio Nei diz, é apenas uma parte da biografia dele. Ele é um vulcão, uma usina de criação. Escreve e pesquisa compulsivamente. Cada letra dele daria para escrever um tratado", diz Faustino, avesso ao termo "biografia definitiva", principalmente pelo fato de Nei Lopes ainda estar vivo e em plena atividade. "Como o Nei não para, o livro certamente precisaria de muitas atualizações em possíveis edições posteriores", complementa o autor. Ainda que de maneira panorâmica, a minibiografia faz um retrato de Nei Braz Lopes, que, aos 67 anos, morando em um sítio no município de Seropédica, região metropolitana do Rio, carrega há tempos um estilo único por conseguir mesclar em seus sambas o erudito e o popular. Músicas que sobem o morro, falando a língua do povo com versos, como "senão tu tava de cueca lá na Frei Caneca no 171, abre a caçapa pra mais um", e pedem licença para adentrar altos salões e dialogar com acadêmicos e letrados, com termos em latim, francês e jurídicos, aprendidos pelo compositor na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, atual UFRJ. Uma mistura balanceada e que resulta em crônicas imagéticas do cotidiano, em muitas das vezes, usando o bom humor para falar de coisas sérias, como nos discos Sincopando o Breque (1999) e Chutando o Balde (2009). O livro também relembra outra importante faceta do sambista, mostrando a envergadura da obra de Nei Lopes como pesquisador, que tem 35 livros lançados, e foi indicado para o Prêmio jabuti, deste ano, na categoria didáticos e paradidáticos, com História e Cultura Africana e Afro-Brasileira (Ed. Barsa Planeta). "Ele virou uma referência sobre África, cultura e história afro-brasileira. Para se ter uma ideia, mais de 300 termos do dicionário Houaiss citam o Nei", comenta Faustino. Com uma produção incessante, Nei Lopes está com mais três livros prontos. Dois deles, o romance Mandingas da Mulata Velha na Cidade Nova e a rapsódia Oyobomé O? Mezamu!, devem ser lançados este ano. Para 2010, deve chegar ao público o Dicionário da Antiguidade Africana, com mapas e gráficos, divulgando a incansável batalha de Nei Lopes pelo afrocentrismo, deixando de estudar a África apenas do ponto de vista da escravidão.

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