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Bienal começa hoje e discute relações entre público e privado

Mostra analisa, entre outros temas, como se dá o desenvolvimento urbano; Niemeyer e Mendes da Rocha são homenageados

Por Camila Molina
Atualização:

O tema da 7ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que será inaugurada hoje, às 18 horas, para convidados, e amanhã para o público, é, como diz o coordenador da curadoria da mostra, José Magalhães Júnior, uma questão-chave para a arquitetura: a relação entre o público e o privado. ''''A Constituição de 1988 incluiu o direito de propriedade. Depois desse fato, colocou-se, entre tantas questões, algumas perguntas - Qual a função social da propriedade? Como se dá o desenvolvimento urbano?'''', afirma o curador. Para o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) de São Paulo, Arnaldo Martino, desde o Renascimento essa questão é pensada - e uma das soluções foi a construção das praças que ligavam os prédios com uma grande área aberta pública (Piazza San Marco, por exemplo). ''''O marco, no Brasil, foi o prédio do Ministério da Educação e Saúde, no Rio (hoje, Palácio Gustavo Capanema) com os pilotis que permitiam a abertura para as pessoas transitar'''', diz Martino. O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que em 15 de dezembro vai completar 100 anos, esteve na equipe que projetou o Ministério da Educação. Niemeyer é, também, um dos grandes homenageados dessa 7ª Bienal de Arquitetura, realizada pelo IAB e pela Fundação Bienal de São Paulo. Um espaço será dedicado a ele no segundo piso do prédio - apresentando todo o seu projeto sobre o Parque do Ibirapuera - e a mostra Oscar Niemeyer Arquiteto, Brasileiro, Cidadão, organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, já apresentada em Belo Horizonte e Curitiba e que perpassa sua carreira, está abrigada sob a marquise do parque (logo depois do MAM). O espaço da mostra de Niemeyer dentro do pavilhão apresenta toda sua concepção do complexo do Parque do Ibirapuera (projetado em 1951, inaugurado em 1954) por meio de desenhos, fotografias e textos pertencentes à biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. ''''Seu projeto original é diferente do que foi construído'''', diz o curador Magalhães. O IAB defende o ''''direito de autor'''' de Niemeyer, mas também não chega a comprar nenhuma briga em relação às polêmicas que envolvem a questão - por exemplo, a reformulação da marquise e o auditório que, no projeto original, ''''tinha outra escala e não era para ser um teatro'''', como diz Magalhães. ''''O auditório teria uma rampa'''', completa Martino. A mostra também faz paralelos históricos entre o Ibirapuera no passado e no presente e apresenta, inclusive, o novo e muito recente projeto de Niemeyer para a transformação do prédio do Detran (em frente ao parque) no Museu de Arte Contemporânea da USP. O outro homenageado pela 7ª Bienal de Arquitetura é Paulo Mendes da Rocha, que terá uma sala especial dedicada a ele também no segundo piso do pavilhão. O arquiteto, vencedor do importante Prêmio Pritzker no ano passado, escolheu exibir na mostra um projeto de 2003 para a implantação de um parque com ênfase, mais precisamente, para ser uma vila olímpica (é projeto de quando São Paulo se candidatou a sediar uma Olimpíada) numa área contínua entre o percurso dos rios Tietê e Pinheiros. ''''Ele está mostrando um desejo para a cidade São Paulo. É o único '''', diz Martino. Mesmo que o tema seja a relação entre o público e o privado, a apresentação de obras públicas é escassa nessa Bienal - enfim, acabam prevalecendo os projetos privados mesmo. ''''A quantidade de obras públicas apresentadas na Bienal é pequena justamente porque essa é uma área deprimida'''', diz Gilberto Belleza, presidente do IAB. Entre os destaques de obras públicas está, diz Magalhães, o projeto do grupo venezuelano Urban Think Tank para Caracas - a construção de um metrô aéreo para uma região de favela. A Bienal preza, na verdade, a diversidade. São 125 expositores entre 13 representações nacionais, salas especiais, arquitetos nacionais (Villanova Artigas, Benedito Lima de Toledo, Carlos Lemos, Paulo Henrique Paranhos, de Brasília, e Rubens Meister, do Paraná) e estrangeiros (o americano Steven Holl, o japonês Shuhei Endo e o espanhol Joan Busquets, responsável pela transformação de Barcelona nos anos 80), projetos do concurso de escolas de arquiteturas e espaços institucionais. A Bienal estava orçada em R$ 4 milhões, mas feita com a captação de ''''menos da metade'''' desses recursos, como diz Martino. A mostra ainda conta com um fórum de debates gratuito, entre amanhã e sábado, no auditório da Bienal - informações no site do IAB -, conferências e exibição de vídeos.

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