''Bem que tentei defender o Bôscoli, mas não deu''

Destaque em Maysa, Mateus Solano encerra o trabalho na minissérie ao mesmo tempo em que entra no elenco de Hamlet, ao lado de Wagner Moura

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Por Patricia Villalba
Atualização:

O controverso papel do jornalista, compositor, produtor e galã Ronaldo Bôscoli na minissérie Maysa - Quando Fala o Coração, da Globo, passou pelas mãos de Rodrigo Santoro e Ricardo Lombardi antes de cair nas mãos de Mateus Solano que, pouco conhecido do grande público, acabou se tornando sensação da temporada. E por feliz coincidência, ao mesmo tempo em que o último capítulo de Maysa vai ao ar hoje, o ator sobe pela primeira vez ao palco como Horácio, na reestreia do Hamlet de Wagner Moura, substituindo o ator Caio Junqueira. Com apenas 27 anos, Solano começou a carreira no teatro há 12. Desde então, esteve em cerca de 30 peças - seis delas só no ano passado. O Bôscoli cafajeste, que deixou a audiência doida da vida ao lançar um "gorda! cafona!" na cara de Maysa em capítulo exibido na semana passada é o seu primeiro papel de destaque na TV. Mais ou menos isso. Ao ver o moço todo charmoso nos anos 60 da minissérie, poucos devem ter se dado conta de que ele vive o personagem "O Ligador" de uma série de comerciais de uma operadora de celulares. Sobre essa carreira singular, que vai da publicidade a Shakespeare, o ator conversou com o Estado por telefone, um dia antes de chegar a São Paulo para o ensaio-geral de Hamlet. Como apareceu o convite para integrar o elenco de Hamlet? Desde quando você está ensaiando? Desde o ano passado. Desde que soube que entraria no elenco, tenho repassado o texto. Conheci o Wagner (Moura) nas gravações da minissérie JK (de 2006, na qual viveu o médico Julio Soares, na primeira fase da história), planejamos trabalhar juntos no teatro um dia. Muito tempo depois, fui ver a peça e fiquei muito entusiasmado. Um dia, encontrei com o Wagner na rua. Ele me contou que o Caio Junqueira ia sair do elenco e me chamou. É o seu primeiro Hamlet? Sim, primeiro Hamlet e primeiro Shakespeare. Eu já fiz mais de 30 peças - só no ano passado foram seis -, mas sempre de autores contemporâneos. Você não é, então, o tipo de ator que tem fetiche pelo Hamlet? Não, não. Você tem razão, tem mesmo atores que perseguem Shakespeare. Acho que é um texto maravilhoso e estou feliz de poder participar dessa montagem agora, mas Shakespeare não era uma tara minha, não. Falando de Maysa, o que você buscou do Ronaldo Bôscoli real para compor o Bôscoli da TV? Não quis procurar parentes ou pessoas que conviveram com ele para não alimentar expectativas. O que eu fiz logo de cara foi ler a autobiografia dele, que já me deu uma noção muito clara sobre como ele era. Só a maneira de ele escrever já diz muito sobre quem ele foi, com aquele jeito bem carioca, charmoso. Se Maysa fosse uma novela, uma ficção simplesmente, o seu Ronaldo Bôscoli seria o cafajeste do pedaço, que aparece para tirar a mocinha do prumo. Não teve algum receio de viver um personagem assim, sendo ele uma pessoa real e, ainda por cima, contemporânea? Tive uma preocupação, sim, mas nesse sentido mesmo que você falou, por ele estar representado como um cafajeste e ser uma pessoa real, que ainda estaria na memória de muita gente. Mas, aos poucos, fui deixando isso de lado, porque muita gente que conheceu o Bôscoli me diz que ele era daquele jeito mesmo, bastante mulherengo. Como ator, eu até tentei defender o personagem, mas nesse caso não deu (risos). De repente, ele até gostava dessa fama... Acho que gostava, sim! Mas ao mesmo tempo em que ele era daquele jeito, namorador, escrevia coisas como "Dia de luz/festa de sol/ e um barquinho a deslizar/ no macio azul do mar". Era um poeta maravilhoso. Quer dizer que você é O Ligador dos comerciais? É muito reconhecido por causa papel? Não. Aquela caracterização, com barba e óculos, me protege. É como o disfarce do Clark Kent. Ele é um cara sem jeito, meio jeca, e ficou muito diferente das outras coisas que eu faço no teatro e, agora, na televisão. Entrei numa fila para entrevistar você. Que tal ser o ator sensação do verão? Sensação do verão, eu? Não... Sensação do verão é esse sol do Rio de Janeiro... Serviço Hamlet. 170 min (c/ intervalo). 14 anos. Teatro Faap (500 lug.). R. Alagoas, 903, 3662-7233. 6.ª e sáb., 20 h; dom., 18 h. R$ 80. Até 15/2

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