PUBLICIDADE

Beaufort põe fogo na discussão do Oriente Médio

Longa de Joseph Cedar ganhou o Urso de Prata de direção no Festival de Berlim, em fevereiro

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Joseph Cedar não é desconhecido do público da Mostra. O diretor israelense já teve um filme exibido na seleção da 28ª edição do evento - Campo de Batalha. Poderia ser o subtítulo de Beaufort, que passa hoje. O título vem da fortaleza que data da época dos Cruzados e foi ocupada por Israel em 1982. Desde então, a bandeira israelense havia tremulado no topo da mais alta torre de Beaufort. Em 2000, a fortaleza foi destruída para não ser entregue às forças do Hezbollah, que avançavam. Joseph Cedar filmou no ano passado e a ironia foi que, no momento em que ele destruía a fortaleza na ficção, as forças israelenses regressavam ao Líbano. O cinema contou muitas histórias de guerra. A de Beaufort leva jeito de se inscrever entre as maiores. É um filme duro, merecidamente vencedor do prêmio de direção no Festival de Berlim, em fevereiro. Ao subir ao palco do Teatro Marlene Dietrich, onde ocorrem as sessões de gala da Berlinale, o diretor Cedar disse que não fez um filme sobre heróis. Beaufort é sobre o medo que mesmo os mais valentes sentem numa guerra e o diretor acrescentou que gostaria de ver a classe dirigente de seu país discutir a paz, em vez de acirrar os combates. Os personagens são soldados encarregados de defender este lugar que vive sob bombardeio. Vidas humanas são continuamente sacrificadas, e por quê? Para manter aberta uma estrada que ninguém usa e para prestar vigilância à bandeira. No limite - para destruir uma fortaleza que, mais do que valor estratégico, tem valor histórico e turístico (mas quem diz que os militares se preocupam com isso?) O protagonista é um oficial de patente reduzida que, num momento-chave, fica paralisado pelo medo. Mas ele não é um covarde. Como um guerreiro-Hamlet - Richard Burton em O Mais Longo dos Dias -, esse herói trágico tem seu momento de dúvida existencial. Qual é o sentido de estar aqui, no meio dessa guerra? O subalterno lhe atira na cara que merecia um comandante melhor e ele também diz que merecia um mundo melhor. Beaufort segue as geografia do terror de Kippur - A Guerra do Perdão, de Amos Gitai, também exibido na Mostra. Explosões, corpos dilacerados e tudo isso filmado em planos-seqüência de grande rigor cênico e intensidade dramática. Os cineastas israelenses sabem do que falam, ao encarar a guerra. Serviço HSBC Belas Artes 2: Hoje, às 19h30. Cinemateca: Amanhã, às 22h. Cotação: Ótimo

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.