B-52s volta com o velho e eficiente senso de diversão

Grupo completa 30 anos de carreira com um novo CD, Funplex, e cantora Kate Pierson elogia CSS e Barack Obama

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Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Acordar com um telefonema de Kate Pierson, do grupo americano B-52s, só pode significar uma coisa: que você andou sonhando de novo com os anos 1980, e é melhor conferir para ver se aqueles terríveis mullets não voltaram a enfeitar seus cabelos. Não. Então é mesmo Kate Pierson. Os mullets não retornaram, mas perucões, o laquê, as dancinhas: está tudo de volta. Pergunto se ela lembra do show que fez em São Paulo, em 99, na Hípica Paulista. "A última vez no Brasil foi maravilhosa. Que platéia aquela do Rock in Rio, muito entusiástica! Lembro de tudo: biquínis, o Corcovado. Alguns amigos estiveram aí recentemente para o carnaval e também me falam maravilhas do Rio." Como se vê, ela não lembra de São Paulo... Mas ela conhece a cantora Lovefoxxx, do Cansei de Ser Sexy, uma de suas dezenas de netinhas artísticas que pululam por aí desde que o B-52s veio ao mundo, em 1978 - pode-se incluir na lista a doida da Peaches, os maluquetes do Scissor Sisters, e por aí vai. "Gosto de todos eles. Têm um olho bom para a moda, para o vestir. São definitivamente da mesma família do B-52s. Sabem que o espírito da coisa está no senso de humor." O B-52s está lançando um álbum novíssimo, Funplex, exatamente 30 anos após terem começado a carreira. E o que é mais louco: seu som excêntrico continua bom para chacoalhar o esqueleto. "Quando começamos, nos chamavam de kitsch, de camp. Há 31 anos, isso fazia sentido. Mas o importante para a gente é que as pessoas se divertiam. Era um som único. Sim, era kitsch, porque nós celebrávamos os excessos da América, que é kitsch." "Nós somos uma banda de festa, é nossa vocação. Queremos fazer as pessoas felizes. Por outro lado, não ficamos indiferentes àquilo que acontece em Washington, nem somos indiferentes ao que acontece no meio ambiente. É por isso que nós apoiamos a Peta (People for Ethical Treatment of Animals, instituição que luta pelos direitos dos animais), é por isso que fazemos um monte de coisas beneficentes", diz a cantora. "Estou também do lado de Obama. Não nego que ficarei feliz se ele for o candidato democrata ao governo americano, trabalho por isso. Mas também estarei com Hillary se ela for a escolhida." Funplex, o complexo de diversão musicais do B-52s, chega ao mercado já com alguns bons números: foram vendidos 2,8 mil discos apenas no primeiro dia por meio do iTunes nos Estados Unidos, o que colocou o álbum em 10º lugar na parada americana. A revista Spin deu três estrelas e meia na sua resenha. "Um monte de coisas mudou na indústria musical nesses 30 anos. Veja bem: não estou reclamando. Adoro esse novo mundo, adoro o MySpace, o Youtube, os formatos digitais. Por meio desse novo mundo, os caras mais jovens podem ouvir as coisas mais antigas, discos que nunca ouviriam de outra maneira. Claro, não é tão bom para vender música, mas é bom para ouvir música, que é o que importa", acrescenta Kate. CONTINUAM AFIADOS COM SUA TEORIA MÓVEL DE PLAYCENTER MUSICAL FESTA: O som é ingênuo, mas ainda esquenta uma pista cheia de talco. O B-52s é um sobrevivente. Atravessou os encantos e os desencantos de duas gerações. Em 1985, perdeu um dos seus integrantes, Ricky Wilson, por complicações de saúde decorrentes da aids. E, apesar de ter-se mantido ativo, não foi assim tão ativo, tanto que já passaram 16 anos desde que gestou um disco completamente novo, Good Stuff, e 10 anos desde que lançaram um par de canções originais (na compilação Time Capsule, de 1998, havia duas inéditas, Debbie e Hallucinating Pluto). Agora, Kate Pierson, Fred Schneider e sua voz metálica, Cindy Wilson e Keith Strickland resolveram mostrar que podem fazer coisas tão boas quanto as fantásticas Rock Lobster e Give me Back My Man. Essas novas faixas atendem pelo nome de Ultraviolet e Funplex. Deliciosamente camp, têm um cheiro de túnel do tempo, mas não de naftalina. É ultradançante, com um quê de brechó chique, como na canção Eyes Wide Open. Às vezes eles são meio ABBA, às vezes nos lembram Buggles e a inigualável Video Killed the Radio Star (é o caso de Love in the Year 3000). A batidinha do eletropop mais descarado, turbinada pela guitarrinha, aparece em Keep This Party Going. Se você for fazer a sua festa nos próximos dias, pode deixar rolar o disco todo. Vai ser carregado nos ombros.

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