Autoras arriscam-se em tema tabu para crianças

E acertam ao abordar a morte em As Sete Vidas de Bertran

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Por Beth Néspoli
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Parece não haver mesmo temas interditos no universo da literatura infantil. A morte é abordada em muitos livros infanto-juvenis, desde clássicos até autores contemporâneos. Claro que há formas e formas de tratar desse assunto. Difícil é fazê-lo com profundidade, sem subestimar a inteligência da criança, e em linguagem lúdica, sem quebrar antes da hora a fantasia do mundo infantil. A dupla de autoras Valquíria Prates e Bianca Corazza se saiu muito bem ao enfrentar essa difícil temática em Histórias do Além: As Sete Vidas de Bertran, livro da editora SM, que será lançado hoje, às 15 horas, na Livraria da Vila, na Vila Madalena. Além das autoras, as crianças poderão entrar em contato também com o criador das ilustrações do volume, o artista plástico Alexandre Teles. Bertran, nessa história, é o gato de estimação de Maria Elvira, uma menina que adora brincar, sempre enrola um pouco para fazer o dever de casa, tem uma amiga invisível, um pouco de medo de fantasmas e de escuro e uma melhor amiga de carne e osso, a Teodora. Ou seja, uma menina como qualquer outra que, subitamente, perde o seu gato amado. Ao chegar do colégio recebe a notícia de que Bertran morreu e está enterrado no quintal. A dor dessa perda vai levá-la a fazer muitas perguntas sobre a vida e a morte. Começa aí uma aventura que envolve dor, saudade e muitas descobertas, num interessante amálgama de pensamento, emoção e ação. Entre as boas sacadas está a presença da amiga invisível Vima, confidente cujo ceticismo impulsiona Maria Elvira a buscar respostas. Afinal, num único dia, ela pode ouvir três diferentes explicações sobre o que acontece depois da morte. Como não poderia deixar de ser, a formação das autoras se reflete na sua arte: Valquíria formou-se em Lingüística e faz mestrado em Educação na USP, Bianca especializou-se em História da Arte e fez pós-graduação em Arqueologia. Assim, a visão de diferentes povos sobre a morte - desde rituais funerários de índios brasileiros até a festa mexicana com suas guloseimas em formato de caveira, passando por rituais chineses e egípcios - aparecem nessa história de forma muito harmônica, sem didatismo explícito. Das notas de pé de página ao formato gráfico, tudo é atraente nesse livro que traz um posfácio com curiosidades como a importância do gato na cultura egípcia, reproduções de quadros como Guernica ou a morte na literatura de cordel.

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