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3 Efes, novo longa de Carlos Gerbase, será lançado simultaneamente nos cinemas, em DVD, na televisão e na internet

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Cinema, internet, TV e DVD - é assim, por esses quatro meios, e em todos ao mesmo tempo, que o gaúcho Carlos Gerbase quer mostrar seu novo longa-metragem, 3 Efes, para o maior número possível de espectadores. A partir de hoje, o filme será exibido digitalmente em algumas salas de Porto Alegre, São Paulo, Rio, Brasília e Curitiba. Vai ao ar pelo Canal Brasil e TV Com (nesta, apenas no Rio Grande do Sul). Pode ser visto no Portal Terra e os DVDs serão encontrados nas lojas, com todos os seus extras. Com essa iniciativa ousada, Gerbase, diretor de longas como Tolerância e Sal de Prata, procura driblar a crônica falta de espaços de exibição para o cinema nacional. Como se sabe, o Brasil produz filmes em quantidade apreciável (cerca de 70 longas ao ano), mas dispõe de poucas janelas de exibição para eles. Em entrevista ao Estado, Gerbase disse que o projeto é alternativo desde a sua concepção inicial. A história é bem contemporânea e retrata o cotidiano de personagens urbanos e suas dificuldades. Sissi (Cris Kessler) é a estudante que sustenta o pai desempregado e tem uma amiga, Giane (Ana Maria Mainieri), que se vira rodando bolsinha. Prostituta de luxo, com programas marcados pela internet. Há também uma dona de casa entediada, Martina (Carla Cassapo), casada com um publicitário, Rogério (Leonardo Machado), que, para não ser despedido, precisa dormir com a chefe, um bofe. E por aí vai. Mundo urbano, cruel e competitivo, com vidas bailando em torno de sexo e do dinheiro como costuma ser nas grandes cidades. Uma história interessante, divertida, com personagens bem desenhados, e com os quais o público jovem talvez possa se identificar. E uma história feita com poucos recursos: ''''3 Efes é um filme de baixo custo - o orçamento foi de R$ 100 mil, incluindo comercialização e distribuição'''', diz o diretor. Exclusivamente digital, economizou a copiagem em película de 35 mm, o tradicional ''''transfer'''', processo que dobraria os gastos. E assim, a solução foi fazer esse lançamento múltiplo, implodindo o conceito de ''''janelas'''' de exibição, termo técnico que designa o intervalo de tempo entre o lançamento em cinema, depois em DVD, TV por assinatura e TV aberta. ''''As ''''janelas'''' são coisa do passado'''', acredita Gerbase. ''''O público decide onde ver e como ver. Se a distribuição tradicional não mudar, a circulação informal continuará a crescer.'''' Para lhe dar razão, basta lembrar do caso recente de Tropa de Elite, amplamente pirateado antes do lançamento em sala. A proposta de baixo orçamento determinou também o processo de filmagem. 3 Efes foi captado por uma pequena câmera mini-DV (''''Se eu tivesse de captar em película, o filme simplesmente não existiria''''). Equipe pequena, num total de oito pessoas no set, e filmagem rápida, de 20 dias. Tudo baratinho e prático. Esse modo de produção determina a estética do filme? ''''Sem dúvida'''', diz Gerbase. ''''Mas o que o público tem a ver com isso? Ele quer se divertir, se emocionar, acompanhar uma boa história, apenas isso.'''' Gerbase também acredita que recursos enxutos não se traduzem necessariamente em produção desleixada - ''''Não fiz um filme trash ou malcuidado. A montagem é do Giba de Assis Brasil (NR.: de fato, um craque da edição), o som é 5.1, a fotografia aproveita a luz da própria cidade e das locações; a revolução está na possibilidade de circular o filme em espaço diferentes, tirá-lo desse ''''tribunal de fim de semana'''', que pode ser interessante para os blockbusters, mas é uma armadilha para o cinema brasileiro.'''' Sobre a temática de 3 Efes, o Estado quis saber se a idéia de uma ''''naturalização da prostituição'''', tratada sem qualquer traço de moralismo, devia alguma coisa ao fenômeno Bruna Surfistinha (que, aliás, também vai virar filme). Gerbase diz que não leu o livro de Raquel Pacheco, nome civil da ex-prostituta de classe média. Mas pesquisou em obras como Psicanálise da Prostituição, de Maryse Choisy, Cliente, o Outro Lado da Prostituição, de Ilnar de Souza, e Mulheres da Vila, de Aparecida Fonseca Moraes, além de visitar vários sites ''''especializados'''' no assunto. Que lhe forneceram boas dicas sobre o funcionamento contemporâneo da assim chamada mais antiga das profissões. Gerbase diz que apenas tentou ser realista e que profissionais do ramo, que assistiram ao filme, se identificaram com as personagens. Foram as primeiras críticas de 3 Efes. E, segundo o diretor, aprovaram o que viram.

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