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As origens do mito John Ford

Seis lançamentos mapeiam a carreira do mestre do western nos anos 20

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Antes de John Ford, houve David W. Griffith, que, com o clássico O Nascimento de Uma Nação, em 1915, estabeleceu o bê-á-bá da gramática cinematográfica. Jean Tulard, em seu Dicionário de Cinema, não exagera ao dizer que Griffith inventou de tudo nos grandes gêneros, do filme policial ao western. Acabou com a imobilidade da câmera, realçou a importância do primeiro plano, da montagem paralela e do flash-back. Quando Ford iniciou sua extraordinária carreira, o western já era um território mapeado, mas isso não impediu que ele imprimisse uma tal marca ao gênero que virou o mito fundador, o Homero de Hollywood. Nenhum outro cineasta, refletindo sobre a fundação da ''América'', contribuiu tanto para a construção da identidade nacional. Ford reconstituiu, pela ficção, a marcha para o Oeste e o estabelecimento das pequenas comunidades, refletindo sobre o alto custo que é preciso pagar para construir uma civilização. Você conhece os grandes filmes do mestre, de No Tempo das Diligências a Rastros de Ódio e O Homem Que Matou o Facínora, passando por Depois do Vendaval, o que mais representa o universo irlandês de suas origens. Só que, a partir de 1917, foram mais de cem filmes, e muitos são obras que a maioria do público só conhece de ouvir falar. Cinéfilo que se preze não pode perder a oportunidade de (re)ver agora o Ford dos primórdios da carreira, ainda no silencioso. Camaradas, Quatro Filhos, O Cavalo de Ferro, 3 Homens Maus, Justiça de Amor e Rio Acima - o único falado - são seis títulos que vêm se somar aos numerosos filmes do grande autor que morreu em 1973, há 35 anos (e que já estão disponíveis no mercado). São filmes que o jovem Ford, nascido Sean O''Feeney, realizou nos anos 20, quando se juntou ao irmão, que se estabelecera em Hollywood, adotando o sobrenome ''Ford''. Os primeiros filmes foram westerns modestos, interpretados por figuras lendárias, como Buck Jones, Harry Carey e Tom Mix. Vieram depois George O''Brien e Victor McLaglen, e, mais tarde, John Wayne e Henry Fonda, que foram atores-fetiches do cineasta, nas várias fases de sua carreira. Camaradas, de 1920, é o mais antigo dessa série. Buck Jones é o derrotado que, ao tomar um órfão sob sua proteção, ganha estímulo para colocar ordem na cidade e conquistar a professorinha desta ''América'' que ainda engatinha. Três Homens Maus, de 1926, com George O''Brien, fornece a matriz para o folclore privado do autor e para O Céu Mandou Alguém, de 1948 - três pistoleiros ajudam uma mulher e passam por um processo transformador. O Cavalo de Ferro (Iron Horse), também de 1926, de novo com George O''Brien (e Will Walling), é um western griffithiano, um épico sobre a construção da primeira estrada de ferro transcontinental dos EUA. Quatro Filhos, de 1928, com James Hall e Margaret Mann, trata dos quatro filhos de uma viúva austríaca que lutam na 1ª Guerra, um deles do lado norte-americano. Ford absorve aqui o expressionismo alemão que havia sido ''americanizado'' por Friedrich W. Murnau, um ano antes, em Aurora. Só esses quatro filmes sintetizam a evolução de Ford para se tornar um dos grandes do cinema, nos anos e décadas seguintes. Serviço Iron Horse (O Cavalo de Ferro). E mais cinco filmes de J.Ford, lançados pelo selo Silver Screen, R$ 39,90 cada

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