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As novas tramas de Marco Giannotti

Na mostra Contraluz, o pintor exibe série de obras fluidas em que usa grades como mote para refletir sobre nossos limites

Por Camila Molina
Atualização:

Como parte do papel do pintor de problematizar a cada passo a imagem, Marco Giannotti apresenta no Gabinete de Arte Raquel Arnaud uma nova série de pinturas que realizou no último ano. "Estava com medo de ficar frio demais, geométrico demais", diz o artista, que em sua última ampla exposição, na Estação Pinacoteca, intitulada Passagens, exibiu pinturas em que regiões geométricas e de pura cor se transformavam nas imagens de frestas e quinas em recortes de espaços arquitetônicos. "A pintura e a arquitetura muitas vezes parecem interagir entre si ao formarem um lugar para a manifestação da luz", escreveu o pintor no livro Breve História da Pintura Contemporânea, que lançou recentemente pela Editora Claridade. Agora, na mostra Contraluz, que ele inaugura, o artista cria o espaço diferenciado na pintura tomando como mote a imagem das grades, campo rico de significações. São grades mesmo, as tramas de arame em losangos ou as de filetes retos verticais, que o pintor prensou nas telas para criar com tinta a óleo e têmpera suas novas composições. Nessa série "mais ambígua" que a anterior, a das Passagens, Giannotti faz construções complexas de camadas. "É um trabalho como palimpsesto, um jogo direto de mais e menos profundidade, de positivo e negativo", define o artista, completando que o paradigma de ser contemporâneo é polarizar mundos diferentes. Faz-se, portanto, "uma relação mais fluida" com os limites entre as tramas de cores (agora não mais puras, por ora menos ou mais vibrantes) e das formas. "O que vemos de início, mais parece um negativo fotográfico: a imagem ainda não foi revelada. Por isso mesmo, somos levados a nos aproximar da tela, examiná-la, interrogá-la, na expectativa talvez de que nesse meio tempo a imagem se mostre por completo", escreve o crítico Ronaldo Brito no texto que acompanha Contraluz. Curiosamente, a grade, afirma Giannotti, entrou nessas pinturas como um ready-made, como um dado do real sobre a superfície pictórica. Impossível não fazer a relação desse mote com as grades que vemos diariamente nas ruas da cidade, mas, ao mesmo tempo, prevalece mais é a imagem dessas tramas como o elemento de mediações para o olhar, não o de aparato como barreira de segurança na metrópole. Afinal, é do campo da pintura que se trata a série de telas, "literalidade e virtualidade" são os artifícios para se criar "o espaço de suspensão" tão caro ao terreno das pesquisas pictóricas, de sua condição "em afirmar uma dimensão imaginária que sempre é negada pelo real", como diz o artista. Em Contraluz as pinturas falam do ato de ver e "da interioridade sedutora que deixa entrever", escreve Brito. Não são agora as imagens de portas e janelas que o artista cria para a passagem para a suspensão, mas a da persiana, diz. Serviço Marco Giannotti. Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Rua Arthur Azevedo, 401, 3083-6322. 10 h/19 h; sáb., 12 h/16 h. Até 20/6. Abertura hoje, 19 h, para convidados

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