As meninas da banda

Com o Fake Number como maior aposta, uma nova geração de garotas vem ganhando espaço e traz na bagagem ''internet, Pitty, Avril Lavigne e preconceito''

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Por Marco Bezzi
Atualização:

O cabelo liso e comprido faz a moldura para o rosto doce e cheio de esperanças. A roupa escolhida a dedo por uma amiga estilista limita suas quatro tatuagens dando a elas ar de fragmentos de sua personalidade. Elektra Mosley, 19 anos, é a versão brasileira da cantora e compositora Avril Lavigne. Para alguns, a comparação soaria pejorativa, sarcástica. Para Elektra, é o maior elogio do dia. As músicas da ex-adolescente do Canadá forjaram o diário imaginário que toda menina como ela gostaria de ter escrito. Hoje, é a vez de a fã se sentir na pele da ídolo. Vocalista do Fake Number, Elektra sabe que está na linha de frente de uma nova tendência que chega com a força de uma Mulher-Maravilha em 2009. Meninas como ela têm pipocado por diversos cantos do Brasil. Mais do que o culto a Avril, todas elas chegam em um momento em que a figura de uma vocalista mulher entrou em conformidade com a massa depois do estouro do Paramore, outro nome que entra no caldeirão de influências da grande maioria das meninas cantoras. Como em um enredo do seriado Malhação, Elektra traz consigo quatro meninos tatuados, vestidos, também, conforme a nova era manda. "Hoje, o visual é até mais importante do que a música", fala a menina nascida em Resende (RJ), mas criada em Lorena, interior de São Paulo. Seu séquito masculino segue a mesma fórmula. "Minha amiga dá dicas do que temos que vestir, mas, por enquanto, não ganha nada pra isso", comenta a vocalista, antes de entrar no estúdio Ultra-Sônica (no Paraíso, em São Paulo) para ensaiar mais uma vez as 13 canções do CD que sai em junho pelo selo Arsenal/Universal. O carimbo Arsenal traz o nome de Rick Bonadio para a conversa. Produtor e empresário, Bonadio esteve por trás dos últimos fenômenos adolescentes como CPM 22, NX Zero e Fresno. Por vias tortas, foi Bonadio também que moldou o som do grupo carioca Agnela. Formado por cinco garotas por intermédio de fóruns na internet - assim como o Belle de Porto Alegre -, o quinteto decidiu participar de um concurso do programa de Luciano Huck com a parceria do produtor. Com a música Podia Ser, o Agnela venceu a primeira etapa do show e teve sua música pinçada para a trilha de Malhação. "No dia em que ganhamos o programa, nossa comunidade no Orkut cresceu de 700 para 60 mil pessoas", fala Deia Cassali, de 20 anos. O primeiro CD do grupo sai em maio, mas suas músicas podem ser escutadas em www.myspace.com/agnelaoficial. O Lipstick veio do ABC e, assim como o Agnela, teve um empurrãozinho da Globo para ver sua comunidade no Orkut crescer de 500 para 35 mil internautas. "Nosso clipe de Na Na Na foi escolhido pelo público no programa do Faustão como o melhor do mês no quadro Garagem do Faustão", conta a vocalista Mel, que tem em Alanis Morissette, NX Zero e Fresno referências para alimentar seu sonho de alcançar o sucesso. Neste domingo, o quinteto se apresenta ao vivo no Domingão. Se o público do Lipstick conseguiu fazer a Globo passar seu videoclipe, um grupo bem menos adolescente fez o dia da vocalista Vivian Cunha, do Papo de Gato. Residentes no clube Dublin, em São Paulo, no final do ano passado, Vivian percebeu uma língua diferente vindo da plateia. "Eram cinco gringos que estavam pulando e gritando sem parar. Quando fui conversar com eles, me disseram que eram da produção da Madonna. Eles assistiram ao nosso show três vezes, nos deram convites para o show dela em São Paulo. Conhecemos os dançarinos, os músicos, mas não a Madonna", ri Vivian. COISA DE MENINO Há uma frase do escritor inglês Samuel Johnson que diz que "a natureza deu tanto poder à mulher que a lei não pode se dar ao luxo de atribuir-lhe ainda mais poder". Se hoje o pop rock nacional está infestado de bandas com vocalistas e instrumentistas do sexo frágil, a consequência de todo esse sucesso é o assédio cada vez maior. "Tenho que andar com seguranças agora. É uma loucura", afirma Elektra, que a partir deste mês assina uma coluna de comportamento na revista Toda Teen. "Os meninos e as meninas agarram, passam a mão na bunda, arranham." Sobre o preconceito contra as mulheres, ela mesmo que já foi expulsa do próprio camarim por ser uma, até chega a participar dele: "Acho que os meninos estudam mais o instrumento, têm mais jeito para tocar" , comenta. Foi assim que as cantoras Pitty, Alanis Morissette , Avril Lavigne e Hayley Williams do Paramore chegaram ao estrelato: cercadas de homens para "protegê-las". Já Deia, do Agnela, trata de implodir o rótulo de "banda de meninas". "Somos uma banda de rock. Ninguém fala ?banda de meninos?." A vocalista diz que o preconceito maior vem dos técnicos de som e contratantes. "Temos que tocar e mostrar que funcionamos ao vivo. Assim eles calam a boca", diverte-se. Filhotes da internet, de Avril Lavigne e Paramore, a nova casta de bandas adolescentes do Brasil tem sua intersecção quando a voz que vem do microfone é a de uma menina. Para entender o fenômeno, basta dar um pulinho no Hammer Rock Bar, em Campinas, no domingo, ou no Ocean Club, em São Paulo, no dia 24, para assistir à apresentação do Fake Number (mais informações em www.fotolog.com.br/fakenumber). Se não for o caso, é só ficar atento à TV e às rádios nos próximos meses. O domínio está apenas começando. O Céu É O Limite FAKE NUMBER: Formado na internet há três anos em Lorena (interior de São Paulo), a banda tem na vocalista Elektra (Lívia Xavier de Souza), de 19 anos, seu grande trunfo. Seguindo a onda de Avril Lavigne, Paramore e NX Zero, o grupo assinou com a Universal e lança seu álbum em junho. Mais informações: www.myspace.com/fakenumber As ?Outras Pitty? LIPSTICK: Desde 2005 com esta formação (Mel no vocal, Michelle no teclado, Tila na bateria, Carolina no baixo e Dedê na guitarra), as meninas do ABC gravaram seu primeiro CD no ano passado. Com influências que vão desde NX Zero até Biquíni Cavadão, o quinteto teve seu primeiro grande momento quando ganhou como melhor banda no quadro Garagem do Faustão. Mais informações: www.lipstick.com.br AGNELA: As cinco meninas de Campo Grande (RJ) se conheceram pela internet em 2007 e foram reveladas - entre 5.800 bandas - no concurso do programa de Luciano Huck, na Globo, no ano passado. Deia, Millah, Nath, Loma e Beta são influenciadas por Pitty, NX Zero, Paramore e Iron Maiden e mostrarão essa mistura com o lançamento do primeiro álbum em maio. Mais informações: www.myspace.com/agnelaoficial PAPO DE GATO: Conhecidos pelas noites no Dublin nas quartas-feiras, em São Paulo, o grupo de Vivian Cunha bebe na praia de Maroon 5, U2, Pink, Paramore, Fall Out Boy e Tim Maia. O álbum Você foi gravado no ano passado no estúdio do Skank, Máquina, em Belo Horizonte, e a masterização ficou a cargo de Mike Fossenkemper (Madonna, Santana, Jota Quest). Mais informações: www.myspace.com/papodegato BELLE: De Porto Alegre vem a banda que tem, com o perdão do trocadilho, na ?bella? vocalista Adrielle, de 18 anos, seu ?algo a mais?. O grupo já abriu para nomes como Millencolin e The Donnas e vem para São Paulo no mês que vem para tentar não ser apenas mais um nome na rede. Alanis Morissette, Roxette e Avril Lavigne são as principais influências da vocalista. Mais informações: www.myspace.com/bandabelle

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