As memórias de uma casa de letras

Livro conta a saga de 100 anos da Academia Paulista de Letras e traz fotos de Márcio Scavone dos seus 40 acadêmicos

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Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

O centenário da Academia Paulista de Letras, que será celebrado em novembro, vai ser comemorado mais cedo com o lançamento, hoje, no Museu da Língua Portuguesa, de um livro que reúne fotos e biografias dos 40 acadêmicos da instituição, quatro deles recentemente mortos - Benedicto Ferri de Barros e Esther de Figueiredo Ferraz, ambos em setembro do ano passado, Crodowaldo Pavan, em abril, e Israel Dias Novaes, morto no último dia 6. Segundo o presidente da Academia Paulista de Letras e autor dos textos do livro, o desembargador e escritor José Renato Nalini, não houve tempo para fazer as correções necessárias para incluir os substitutos de duas cadeiras, a de número 12, agora ocupada pelo professor Paulo Natanael Pereira de Souza, sucessor de Benedicto Ferri de Barros, e a de número 36, da qual tomou posse, em maio, Dom Fernando Antonio Figueiredo, bispo de Santo Amaro, substituindo Esther de Figueiredo Ferraz. A respeito das mortes desses imortais, o presidente Nalini lembra no livro uma frase de Josué Montello ao escrever sobre o centenário da Academia Brasileira de Letras, em que o maranhense cita o acadêmico francês Gaston Boisser: "São as mortes que dão vida à academia". De fato, desde que a Academia Paulista de Letras foi fundada, em 27 de novembro de 1909, nunca foi aceita a proposta de congregar mais de 40 intelectuais, o que faz crescer a disputa por uma vaga na instituição, pela qual passaram nomes como Mário de Andrade, Sérgio Milliet e Sérgio Buarque de Holanda. Hoje a academia ostenta no quadro de titulares escritores do porte de Lygia Fagundes Telles (cadeira número 28, que foi de Júlio Mesquita Filho) e Ignácio de Loyola Brandão, colunista do Caderno 2 (cadeira número 37, ocupada no passado por Vicente de Carvalho). O presidente José Renato Nalini anuncia no centenário da instituição uma ampla reforma que irá beneficiar não só os habituais frequentadores da academia como um novo público a ser conquistado com uma programação imovadora de cursos e conferências. Desde a sua fundação, como todas as academias, a Paulista teve de enfrentar os críticos que a acusam de anacronismo. Antes de ganhar sua sede definitiva, inaugurada em 1953, no largo do Arouche, centro de São Paulo, os acadêmicos improvisavam sessões nas salas da Biblioteca Municipal e até no salão de inverno da antiga Casa Mappin. O sólido palácio dos acadêmicos, projetado pelo arquiteto Jacques Pilon, exigiu cinco anos de construção, e marcou uma nova etapa da APL com a instalação de uma biblioteca que hoje reúne mais de 100 mil volumes No entanto, meio século de uso causou sua deterioração, levando a instituição a pedir ajuda da Secretaria de Cultura para concluir as obras de reforma, que incluem a recuperação de seu auditório. O presidente Nalini, titular da cadeira 40, ocupada no passado pelo modernista Menotti del Picchia, acredita que o centenário da APL marque uma nova fase da instituição. Ela tem atraído autores jovens como o advogado, professor, político e escritor Gabriel Chalita, ocupante da cadeira 5, que, aos 40 anos, já tem 40 livros publicados, dos quais o mais recente é Cartas entre Amigos. Também os 40 retratos do livro seriam feitos pelo fotógrafo Mario Scavone à luz da tarde no prédio da APL, "invocando a permanência e o ciclo infinito do tempo" por meio de uma luz invernal. Essa decisão foi tomada após Scavone ter feito a foto de seu pai, o acadêmico Rubens Teixeira Scavone (que ocupou a cadeira 18, hoje do historiador Jorge Caldeira), na biblioteca do apartamento da avó do fotógrafo, Maria de Lourdes Teixeira, outra acadêmica da família. Assim, as imagens da maioria dos acadêmicos foram registradas na APL, excetuando-se a do bibliófilo José Mindlin, titular da cadeira 30, fotografado em sua biblioteca particular. Não são apenas fotos para a história. São imagens do coração intelectual da metrópole. Serviço 100 Anos da Academia Paulista de Letras. De José Renato Nalini. Museu da Língua Portuguesa. Pça. da Luz s/n.º, 2.º A. Hoje, 18 h

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