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Artistas jovens marcam presença nos corredores da SP-Arte 2019

Apoiados por galerias que trabalham construindo também suas carreiras, novos nomes da arte contemporânea ganham destaque na feira

Por Guilherme Sobota
Atualização:

Se a SP-Arte está recheada de obras de nomes consagrados, conhecidos no mundo todo, como Pablo Picasso e Di Cavalcanti, e de fundadores da arte contemporânea brasileira, como Lygia Pape e Rubem Valentim, a feira – que chega ao fim neste domingo, 7 –, também coloca em evidência o trabalho de artistas jovens. É o caso do mineiro Randolpho Lamonier (1988) e dos paulistas Andrey Rossi (1987), Vivan Caccuri (1986) e Sandra Mazzini (1990).

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Rossi, doutorando em artes visuais pela Unicamp, em cuja pesquisa vislumbra o próprio processo artístico, expõe seus trabalhos de pintura com a OMA Galeria – ela própria dedicada a trabalhar com artistas jovens de trabalhos consistentes e carreiras em desenvolvimento.

Nesta SP-Arte, ele expõe a série Carga Viva, quatro pinturas a óleo sob telas em branco, deslocando o trabalho anterior, feito em lonas de caminhão. Em duas delas, o branco ocupa a maior parte da tela de 1,75m de altura: em Acúmulo (2019), um grupo de cabeças humanas extravasa de um saco no chão, representando uma aproximação com a terra, destino final de todos. Em outras duas telas, uma caixa estreita abriga, cada uma, um homem lá dentro.

Andrey Rossi. Trabalho nas telas e também na universidade Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Queria trazer um pouco de respiro para a minha pintura e o branco dá essa noção de espaço e vazio, porque quero falar das cargas que o ser humano carrega. Viver é pesado, e vivemos num momento de exclusão, de encaixotamento. Estamos numa caixa agora, o celular é outra caixa, o carro. Trabalho o vazio para trazer essa dicotomia entre o espaço e o indivíduo”, explicou ele, na feira.

Nascido em Porto Ferreira, no interior de São Paulo, mudou-se para São Bernardo do Campo, onde mantém o ateliê e o trabalho com a OMA. Em casa, cresceu num ambiente onde o pai era marceneiro e a mãe, pintora de cerâmicas. O contato com os instrumentos o inclinou para a arte, e com apoio dos pais, foi estudar artes visuais na Unesp e depois seguiu para a pós-graduação na Unicamp, onde frequenta o doutorado.

Transportar o próprio trabalho artístico para a pesquisa acadêmica é uma questão. “O programa tenta explorar exatamente como fazer uma pesquisa científica sobre o seu trabalho. Acabo me debruçando mais sobre como se constrói o meu processo do que sobre a questão conceitual da obra. As duas estão vinculadas, claro, mas é isso. Sempre me dizem que meu trabalho é pesado, carrega muita coisa. Mas é porque ele me cansa muito: sou detalhista, me exige muito tempo”, conta. O amparo intelectual vem de textos como Teorias da Arte Moderna, Mal de Arquivo, de Jacques Derrida, e Teoria do Romance, de Bakhtin.

O artista segue agora para uma residência em Luben, na Alemanha, conectada à Documenta de Kassel.

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Também presente na feira, o mineiro Randolpho Lamonier veio apresentar trabalhos recentes que variam entre vídeo, texto e peças com trabalhos têxteis. Com fortes mensagens políticas (a série que deu origem aos outros trabalhos chama-se Profecias, com previsões sobre o futuro do Brasil), as obras, segundo o autor, partem de um lugar do desejo para abrir espaço de respiração no momento atual. Uma das peças prevê: “Em 2040, legalizamos o amor e outras drogas menos intensas”. Na feira, ele comentou: “Quis pensar possibilidades do futuro com elementos que tocam no presente”.

Randolpho. O artista e a montagem 'Transa' (2019) Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Gratuitas, visitas guiadas têm roteiros elaborados

Temas como abstração e figuração, arte erótica e colonialismo fazem parte da programação das atividades da feira

Um dos destaques da feira são as visitas guiadas. Gratuitas neste domingo, 7 – último dia do evento –, elas ocorrem de meia em meia hora entre 13h e 17h30. Os roteiros, elaborados por pesquisadores vinculados à SP-Arte, variam entre temas como abstração e figurativo na modernidade, artistas afrocontemporâneos, arte erótica e design.

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O Estado acompanhou uma visita com o tema Descolonizando a Arte, com roteiro elaborado pela antropóloga e pesquisadora Ana Beatriz Almeida. Prestes a iniciar um doutorado na King’s College, sob orientação de Paul Gilroy, ela passa por obras de Rubem Valentim, Paulo Nazaré, Manolo Valdez, Lygia Pape e Liliana Porter, entre outras, para explicar como a história oficial das artes plásticas foi moldada por uma visão eurocentrista – e como esses artistas questionaram (ou ainda questionam) a narrativa de maneira criativa e pujante.

A obra de Liliana Porter mostra um minúsculo indivíduo com um instrumento na mão: a destruição que ele “promove” na superfície representaria o estrago que um único homem pode fazer sozinho. 

“Essa obra só poderia ter sido feita por uma mulher”, comenta no tour. “É uma obra que questiona todo o colonialismo do cenário artístico.”

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