Artista plástica Ultra Violet morre aos 78 anos nos EUA

Francesa faleceu em Nova York no último sábado

PUBLICIDADE

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Duas semanas após o fim de sua exposição na Dillon Gallery, a artista plástica e atriz de origem francesa Ultra Violet morreu no sábado, aos 78 anos, de câncer, em Nova York. A mostra celebrou os 50 anos da Factory, o histórico estúdio do maior nome da arte pop, Andy Warhol, onde surgiu Ultra Violet, nome artístico de Isabelle Collin Dufresne, nascida na França no seio de família da classe alta. Jovem rebelde, ela desembarcou em Nova York no começo dos anos 1950. Foi descoberta por Warhol em 1964, quando tomava chá no restaurante do hotel St. Regis, em Nova York, com o pintor surrealista Salvador Dalí, seu mentor. Ela adotou o extravagante nome de Ultra Violet três anos depois, ao filmar com Warhol  I, a Man (1967). Na Factory ela faria ainda outros 16 filmes com Warhol e seus seguidores, entre eles Paul Morrisey. O nome da atriz combinava com seu visual excêntrico, em que a cor violeta predominava, tanto na maquiagem como nas roupas. Sua aparição mais marcante foi numa cena de festa do badalado filme de John Schlesinger, Perdidos na Noite (Midnight Cowboy, 1969), em que Jon Voight e Dustin Hoffman, respectivamente um prostituto de rua e um sem teto, invadem uma festa underground, dessas típicas oferecidas por Warhol em sua Factory. Da cena, aliás, participaram outras estrelas da "fábrica" do artista, entre elas Viva e Paul Morrisey. A atriz também trabalhou com Milos Forman, Woody Allen e Paul Mazursky. Ativa até seus últimos dias, Ultra Violet abandonou a vida louca dos anos 1960 - vale dizer, as drogas e as orgias - quando se converteu à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Na autobiografia Famosos por 15 Minutos: Meus Anos com Andy Warhol, ela conta como voltou à religião após sofrer um colapso nervoso. Ultra Violet costumava dizer que esses foram tempos de perdição de uma garota exibicionista que perseguia manchetes . "Fama é algo legítimo, porque as pessoas querem ser Deus, querem ser lembradas, viver eternamente", justificou. A exposição de Ultra Violet na Dillon Gallery, que ficou em cartaz até dia 3, reuniu 40 obras de Ultra Violet que recriavam o estúdio da artista no bairro deChelsea, por onde passaram outros célebres artistas amigos (e amantes), como Edward Ruscha. Na mostra foram incluídos filmes da atriz de diversos períodos, de Last Supper (A Última Ceia), feito no começo de carreira, à última aparição no cinema, Self Portraits (Autorretratos, 2004). Nascida em Grenoble, França, em 6 de setembro de 1935, Ultra Violet se rebelou contra os parentes aristocratas, que recorreram ao serviço de um exorcista para aquietar a adolescente Isabelle, em 1948. Pelo jeito, não adiantou. Três anos depois, ela foi despachada para Nova York, a tempo de se envolver com os pintores que se tornariam os ícones do movimento pop americano (entre eles Lichtenstein e Rauschenberg). Também uma artista visual talentosa, ela assinou obras como a a escultura "IX- XI", referência à tragédia do 11 de setembro com os algarismos romanos invertidos, comprada para o Memorial em homenagem às vítimas do ato terrorista que derrubou as Torres Gêmeas.A vida de Ultra Violet inspirou a ópera Famous, de David Conte, com libreto de John Stirling Walker.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.