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Artista italiano combate símbolos de ódio com arte de comida

Pier Paolo Spinazzè, criador do projeto CIBO, viralizou com vídeos das suas criações nas redes sociais

Foto do author Ana Lourenço
Por Ana Lourenço
Atualização:
Arte 'Ábacodelle Stagioni', contador das estações em tradução livre Foto: CIBO

Muito mais do que contrastar com o cinza das cidades, a arte urbana é uma forma de manifestação. Ela representa a democratização do espaço público e também é muito usada como forma de crítica social. O termo grafite, aliás,tem origem italiana, da palavra graffito, e é exatamente lá, na Itália, que o projeto CIBO (em tradução livre, comida, em português) surgiu.

“CIBO é criar arte de rua contra o ódio”, resume a descrição do site do artista Pier Paolo Spinazzè, criador do projeto que transforma símbolos nazistas e fascistas em comida. Manifestações preconceituosas espalhadas pela rua sempre incomodaram o artista, mas só em 2008, após o assassinato de um de seus amigos por um grupo de extrema direita ter acontecido, é que CIBO nasceu. Segundo Spinazzè, desde aquele dia, encobrir o ódio pelas ruas de Verona virou uma verdadeira missão.

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“Vivemos em um mundo injusto e preconceituoso e eu acho que é importante fazer algo para tentar mudar as coisas. Eu sei desenhar, este é o meu meio de tentar fazer a diferença ou de pelo menos conscientizar as pessoas sobre um problema”, diz ele. 

Para isso, Spinazzè troca ódio por amor, representado por um dos maiores amores italianos: a comida. “Na Itália, a comida abraça uma grande parte de nossa tradição, cultura e orgulho nacional, mas, o mais importante de tudo, é que comida significa passar tempo com as pessoas que amamos, compartilhando felicidade”, explica ele que, somente em 2016, começou a utilizar as redes sociais para expor o trabalho. Com canais no YouTube, Instagram e Facebook, imagens e vídeos de obras do artista são compartilhadas com usuários ao redor do globo. O artista também conta com uma página no Patreon, uma espécie de vaquinha online para artistas.

“Sinceramente, nunca esperei essa fama toda. Acho que é uma prova da validade do trabalho que faço e do compartilhamento das pessoas com os ideais de igualdade e respeito”, conta ele que hoje, com mais de 330 mil seguidores no Instagram, é alertado por seus fãs assim que um novo grafite racista é criado. “A arte de rua é efêmera por excelência. Ontem, não estava lá, hoje está lá e amanhã não estará lá novamente.”

Spinazzè combate ódio com o amor italiano: a comida Foto: CIBO

Apesar da admiração mundial, o artista enfrentou muitos ataques e ameaças de pessoas favoráveis aos movimentos racistas. Além de insultos e mensagens de ódio, Spinazzè tem seus trabalhos arruinados constantemente. E, cada vez que isso acontece, ele retorna ao local e faz um trabalho maior que o anterior. “Quando assumo a responsabilidade de encobrir símbolos de ódio, acho que é meu dever continuar a cuidar deles. Eu não poderia pensar em fazer o contrário. Digamos que, em meu coração, eu sinto que é um dever de cidadania.”

Formado em design Industrial, o artista acredita que o projeto CIBO é uma forma de apagar o ódio do mundo. “Esperançosamente, ele se tornará contagioso o suficiente para inspirar outras pessoas a fazer a mesma coisa usando seu próprio estilo e linguagem”, escreve ele, em sua página. 

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