Arte do encontro: da Vila Madalena a Lisboa

Artistas do Ateliê Fidalga, coordenado por Sandra Cinto e Albano Afonso, abrem exposições e lançam livro por iniciativa própria

PUBLICIDADE

Por Camila Molina
Atualização:

Sem o uso de Lei Rouanet ou de outros incentivos fiscais, um grupo de 59 artistas de São Paulo, por iniciativa própria, vem mostrando que é possível fazer exposições, editar livro, apresentar sua arte não apenas na capital, mas até do outro lado do oceano. Os participantes do Ateliê Fidalga, coordenado pelos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso, estão para inaugurar a partir de quarta-feira, mostras em Lisboa, em Portugal; em 3 de outubro, na Funarte; e ainda lançar publicação pela editora espanhola Dardo. "Não ficamos esperando convites", diz Albano. "É uma rede que se faz a partir de confiança", afirma Fernando Velázquez. Se se fala que o circuito brasileiro de arte é fechado, o grupo mostra que há como agir por outras brechas, chegar à terceira margem.As exposições em Lisboa vão ocorrer tanto na Galeria Carlos Carvalho (mostra de pequenos formatos) como no espaço Carpe Diem Arte e Pesquisa, ligado ao Ministério da Cultura português. Para este último local, institucional, os artistas prepararam uma mostra site specific, Entre Tempos, e a coletiva PhotoFidalga, com fotografias feitas especialmente para a ocasião sobre o tema Carpe Diem - exemplares das imagens serão vendidos a 50 e há também duas caixas com todas as criações, já adquiridas, por um colecionador português e por um espanhol. Nos locais, ainda, Sandra e Albano fazem individuais.O Ateliê Fidalga é localizado na rua de mesmo nome no bairro da Vila Madalena e foi fundado em 2000 por Sandra e Albano, criadores destacados nacional e internacionalmente. Começou como espaço livre para criação prática de pintura e desenho, mas o perfil do ateliê foi mudando de forma natural até chegar ao que é hoje: grupo de estudos em que os participantes, divididos em quatro turmas, debatem todas as semanas os seus processos de criação e temas amplos. O perfil dos integrantes é diverso: há artistas de várias idades, nacionalidades, de linguagem distintas, há quem já trabalhe em galeria e gente que não, o que contribui para a dinâmica de "muita troca" de experiências, como diz Sandra. No dia do encontro acompanhado pelo Estado, estavam presentes Anne Cartault d"Olive, Bettina Vaz Guimarães, Christina Meirelles, Felipe Cama, Felippe Segall, Fernando Velázquez, Graziela Pinto, Helen Faganello, Jérôme Florent, Jofer, Maria Luisa Lobo Editore, Madu Almeida, Marcelo Amorim, Mariana Palma, Reginaldo Pereira e Renato Leal. "O artista é solitário e o processo se torna mais rico", diz a pintora Mariana Palma. "Nas discussões, tanto conceitual quanto de técnica, os problemas dos trabalhos aparecem", afirma Segall. "São 15 retornos diretos sobre sua obra e se há crítica ela não é gratuita", diz Albano - "e tem vezes que o tempo fecha por aqui", brinca Leal.Artistas estrangeiros sempre visitam o grupo, assim como críticos convidados fazem palestras no ateliê, que no futuro terá espaço para abrigar residências artísticas. Muitos são os frutos da arte do encontro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.