Aproximação Com Oswald De Andrade

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Por Ubiratan Brasil
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Macunaíma já foi lido sob óticas diversas, desde Cavalcanti Proença e Gilda de Mello e Sousa, passando por Telê Ancona Lopez. Em 1972, o mosaico aumentou quando Haroldo de Campos publicou Morfologia do Macunaíma, que a editora Perspectiva relançou recentemente (303 páginas, R$ 60). Trata-se de um estudo iniciado em 1967 e que apresenta uma análise das projeções mutuamente complementares dessa figura, assim como, em termos mais gerais, uma indagação e discussão aprofundada dos métodos e problemas da moderna semiologia da prosa. A aproximação com o herói sem nenhum caráter, no entanto, aconteceu a partir da prosa de Oswald de Andrade nos anos 1950 e 60, quando Campos publicou estudos específicos - um deles, sobre as Memórias Sentimentais de João Miramar, no Suplemento Literário do Estado. Foi quando surgiu Macunaíma. "Esbocei o paralelo entre os dois livros sob o ponto de vista do modo paródico, em ambos operante, e estabeleci a influência do Miramar sobre o Macunaíma, quanto a determinados aspectos da sátira lingüística e social (influência, aliás, expressamente admitida pelo próprio Mário)", escreve Campos. O ensaísta propõe uma análise estrutural do romance a partir do módulo fabular estipulado por Vladimir Propp. Para Campos, ao contrário da imagem difundida de ser uma obra caótica e malograda, Macunaíma é um trabalho meticulosamente estruturado de acordo com princípios coerentes, baseados na forma operativa das fábulas. "Macunaíma foi escrito por Mário contra si mesmo, contra o seu ?psicologismo? e a sua indulgência retórico-sentimental", observa Campos. Com isso, aproxima-se de Oswald - entre duas obras deste (Serafim Ponte Grande e Memórias Sentimentais), situa-se a rapsódia de Mário e seu esboço de "uma língua brasílica plurirregional e de uma saga panfolclórica". Para o ensaísta, a paródia era o recurso estilístico que aproximava o trabalho dos dois Andrade. Macunaíma surge como uma rapsódia de um herói tropical, ameríndio em processo de "europeização", na conflitante busca de seu legado civilizatório. Citando Oswald, Campos conclui que "Mário escreveu a nossa Odisséia e criou duma tacapada o herói cíclico e por cinqüenta anos o idioma poético nacional".

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