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Apanhadores nos campos do circo

Netos de Chaplin, Aurélia e James Thiérrée são múltiplos e sua arte muda abarca tudo: ilusionismo, teatro, dança e acrobacias

Por Juan Velásquez
Atualização:

Ouvir Aurélia Thiérrée, neta de Charles Chaplin e precursora de um novo circo - dos mais contemporâneos movimentos artísticos da Europa -, é como ouvir Marcel Marceau, que foi o maior mímico da nossa época. Ou outros artistas que, por terem ido tão fundo em sua pesquisa na arte foram tomados pela delicadeza dela. Aurélia teve pouco contato com Chaplin, mas sua arte possui paralelo forte com a dele. Ele é pai dos palhaços - ela faz um circo mágico, e mudo. Ela caminha, dança e faz acrobacias pelo palco com a linguagem irreal de Alice no País das Maravilhas. Uma garota esguia e bela com postura de bailarina, que abarca tantos talentos quanto Stanislavski ou Eugênio Barba, tradutores da arte cênica oriental para o Ocidente, sonharam que deviam ter os artistas deste lado do mundo. Ela e seu irmão, James Thiérrée - tão talentoso quanto ela e seu parceiro de palco -, levam ao palco do Sesc Vila Mariana, a partir de amanhã, o L?Oratorio D?Aurélia (O Oratório de Aurélia), dirigido pela mãe, Victoria Thierrée Chaplin. O espetáculo mescla fantasia, ilusionismo, dança e teatro. Aurélia falou ao Estado sobre o calor, até mesmo inconsciente, que o público brasileiro tem o poder de transmitir a quem está no palco. Você esteve aqui em 2007. O que o Brasil inspira em você? Primeiro, um desconhecido prazer de boas sensações. Veja, na Europa, por exemplo, o público não se comunica tanto como aqui. Por mais que apreciem e se entusiasmem, são mais contidos. E a nossa performance no palco é também reflexo da troca com o espectador, e no Brasil foi um retorno tão bom... Eu me lembro bem que, quando me faltava fôlego, devido à emoção, durante apresentações no Recife, a cada aclamação do público era como se as pessoas, todas, nos abraçassem ao mesmo tempo. Para você, voltar ao Brasil soma algo ao espetáculo? O L?Oratorio ainda está em construção. É um imenso prazer vir aqui pela segunda vez. Achávamos que tínhamos de conhecer mais este país e trocar idéias com esse povo tão receptivo e acolhedor. Embora você não seja resultado da arte de Chaplin, sua escolha é intimista como a dele. Qual a semelhança de visão artística entre vocês? Eu perdi o meu avô quando tinha apenas 4 anos e não tive muita oportunidade de dividir suas idéias, mas li e vi tudo dele. Acho que não nos damos conta, quando crianças, desses astros pertencentes a todos. E quanto ao processo de criação do seu trabalho? Fomos muito protegidos por nossos pais, que souberam nos dar uma vida simples (nem tanto... risos) de muito amor e bons valores. Eu tenho um trabalho que sem dúvida vem de nossa ?formação? circense legada por nossos pais, mas também pelo que colhi com outros parceiros (Milos Forman, Coline Sereau, Jacques Barratier, The Tiger Lillies), e tenho certeza que ele existe por si só. Astros são intocáveis e devemos respeitar. Amo o Carlitos como amam milhões de pessoas. Como é possível, para você, agregar tantas habilidades em um grupo de artistas? São encontros da vida, desses mágicos sem explicações e um grande sentido. O Jaime Martinez e o Júlio Monge, por exemplo, vimos a estrela que brilhava em torno deles e os convidamos (para a nossa surpresa os dois aceitaram... risos). São artistas conceituadíssimos. O mundo compôs essa equipe e agora rodamos o mundo para mostrar o resultado final desse encontro. Estamos todos sempre em sintonia, é tão mágico quanto a forma dos encontros, somos hoje todos amigos de infância. Não seria esse o caminho e a razão do sucesso? Serviço O Oratório de Aurélia. 75 min. Livre. Sesc Vila Mariana (630 lugs.). Rua Pelotas, 141, 5080-3000. Amanhã a 5.ª, 20h30. R$ 10 a R$ 40

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