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Aos 83 anos, chega enfim ao País o lendário Henry Gray

Discípulo de Howlin?Wolf, pianista tem quase 70 anos de palco

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Pouca gente conhece esse pianista de blues por aqui, mas a festa para a primeira vinda de Henry Gray ao Brasil, para o JazzFest, deveria começar já no aeroporto, quando ele descer. É uma lenda do blues, com quase 70 anos de palco - seu primeiro concerto profissional foi aos 16 anos, sob os olhares meio desconfiados do pai, que permitiu o show mas o acompanhou ao clube de Alsen, Louisiana, cidadezinha perto da fazendinha onde a família vivia. "Quando me pagaram, e meu pai viu que eu podia ganhar dinheiro com o blues, ele passou a gostar muito daquilo tudo", conta Gray, atualmente com 83 anos. Desde aquele início remoto, ele trabalhou ou gravou com meio mundo: Muddy Waters, Otis Rush, Sonny Boy Williamson, Guitar Slim, Taj Mahal, Homesick James, Robert Lockwood Jr., Billy Boy Arnold, Johnny Shines, Abbe Locke, Hubert Sumlin, Lazy Lester, Little Walter Jacobs, Jimmy Reed, Jimmy Rogers, Koko Taylor, Lucinda Williams, Wahsboard Sam. Tocou com Elmore James e esteve com James na noite em que este morreu. Há dois anos, Gray tocava na Noite do Piano no House of Blues, em New Orleans. Uma constelação dos maiores nomes do jazz e do blues da região subia e descia do palco apenas para fazer uma pontinha no seu show. O local estava lotado. Ele é um dos últimos grandes pianistas de blues da sua geração. Seu estilo é elétrico, festivo, uma espécie de elo perdido entre o R&B, o blues boogie-woogie e o rock?n?roll. Em 1998, Henry Gray foi convidado por Mick Jagger, dos Rolling Stones, para tocar no seu aniversário de 55 anos, em Paris. "Aqueles garotos adoram uma festa", ele diz, sobre os Stones, seus amigos há décadas. Em 1999, ele foi indicado para o Grammy pelo disco A Tribute to Howlin?Wolf (TelArc Records). Foi um dos seus mentores musicais, Howlin?Wolf (o outro foi Big Maceo Merriwether), que o convidou para integrar seu grupo em 1956. Henry Gray estava tocando com Little Walter, mas topou, e esteve na banda de Wolf até 1968 - os discos que fez nesse período têm a marca característica da batida de Gray ao piano. Durante os anos 1950 e 1960, ele também foi um músico de estúdio para gravações da Chess Records - ou seja, seu toque pode ser ouvido em quase tudo o que de mais essencial foi gravado no período. Mas ele mesmo só gravou seu primeiro disco-solo em 1988, pelo selo Blind Pig. Hal Horowitz, em 1999, escreveu: "Gray pode ser facilmente emparelhado com os grandes, como Otis Spann, Pinetop Perkins e Sunnyland Slim." Considerado um dos filhos mais ilustres de Baton Rouge, na Louisiana (embora não tenha nascido ali, é onde vive hoje), ele serviu o Exército americano durante a Segunda Guerra Mundial. Foi enviado ao Pacífico Sul onde, em muitas ocasiões, costumava entreter as tropas tocando piano e cantando. Pouco antes do final da guerra, deu baixa por problemas médicos e voltou para a casa da família em Alsen. Logo depois, embarcaria para a terra do blues eletrificado, Chicago, para viver com parentes. Para quem gosta do blues, esse é um show obrigatório. Aqui está o sabor do pântano da Louisiana emprenhado pela eletricidade de Chicago.

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